Hipomania é um episódio de elevação do humor que não atinge a gravidade da mania. Frequentemente, envolve uma sensação de energia aumentada, otimismo exagerado e necessidade reduzida de sono.
Pessoas em hipomania parecem extremamente produtivas, sociáveis e até carismáticas, o que muitas vezes confunde familiares e colegas, pois os sintomas parecem positivos.
Contudo, esses estados também carregam riscos, como impulsividade, irritabilidade e comportamentos de risco. Em consultório, atendi um paciente que, durante uma fase hipomaníaca, largou o emprego para iniciar três projetos simultâneos. Resultado: nenhum deles concluído. Seu entusiasmo inicial deu lugar a frustração e exaustão.
Pergunta reflexiva: Você já viveu um período em que se sentiu com energia acima do normal, dormindo pouco, com pensamentos acelerados e agindo de forma impulsiva?
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Critérios diagnósticos segundo o DSM-5
De acordo com o DSM-5, um episódio hipomaníaco deve durar pelo menos 4 dias consecutivos e envolver alterações observáveis no humor e funcionamento, mas sem prejuízos severos nem sintomas psicóticos.
Os sintomas comuns incluem:
- Autoestima inflada ou grandiosidade
- Redução da necessidade de sono
- Fala mais rápida ou pressão para falar
- Fuga de ideias ou sensação de pensamentos acelerados
- Aumento de atividades dirigidas a objetivos
- Envolvimento excessivo em atividades com potencial de consequências dolorosas (gastos impulsivos, sexo desprotegido, etc.)
O diagnóstico exige pelo menos 3 desses sintomas (ou 4, se o humor for apenas irritável).
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Diferença entre hipomania e mania
Característica | Hipomania | Mania |
---|---|---|
Duração mínima | 4 dias | 7 dias ou qualquer tempo com hospitalização |
Gravidade | Leve a moderada | Grave, com prejuízo funcional severo |
Presença de psicose | Ausente | Possível ou presente |
Internação necessária | Rara | Frequente |
Percepção do paciente | Pode se ver como mais produtivo | Frequentemente nega a doença |
A hipomania muitas vezes passa despercebida, sendo identificada somente quando alterna com episódios depressivos, compondo o chamado transtorno bipolar do tipo II.
Enquadramento na CID-11
Na CID-11, a hipomania é reconhecida como uma condição clínica distinta, classificada dentro dos transtornos do espectro bipolar. Ela é descrita como:
- Episódio com elevação moderada do humor e aumento da energia
- Sem delírios, alucinações ou comprometimento grave
- Pode preceder ou seguir episódios depressivos
Essa classificação favorece uma avaliação mais precisa do espectro bipolar, promovendo abordagens terapêuticas mais adequadas.
Abordagens terapêuticas e implicações clínicas
A hipomania, por vezes romantizada como uma fase boa, merece atenção clínica. Sua detecção precoce permite prevenir a progressão para mania ou depressão severa. Em terapia, usamos estratégias para ajudar o paciente a:
- Monitorar padrões de sono, humor e impulsividade
- Desenvolver habilidades de autorregulação emocional
- Identificar gatilhos contextuais ou emocionais
- Promover estabilidade no estilo de vida e nas relações interpessoais
O trabalho terapêutico frequentemente envolve acolher sem julgar, ajudando o paciente a diferenciar entre euforia saudável e estados alterados que podem levar a consequências prejudiciais.
Perguntas frequentes
- O que é hipomania?
Hipomania é um estado de humor anormalmente elevado, expansivo ou irritável, que dura pelo menos quatro dias. Embora pareça positivo à primeira vista, como aumento de energia, criatividade e sociabilidade, costuma vir acompanhado de impulsividade e alterações comportamentais que podem gerar consequências negativas. - Qual a diferença entre hipomania e mania?
A hipomania é uma forma mais leve da mania. Na hipomania, não há delírios, alucinações ou necessidade de hospitalização, e o funcionamento social costuma estar preservado. Já a mania envolve maior prejuízo funcional e, frequentemente, sintomas psicóticos. - Como posso saber se estou vivendo uma fase hipomaníaca ou só estou animado?
A diferença está na intensidade, duração e impacto. A hipomania causa mudanças marcantes no comportamento e costuma ser percebida por outras pessoas. Se a euforia vem acompanhada de impulsividade, fala acelerada ou pouca necessidade de sono, vale buscar uma avaliação clínica. - Quais são os principais sintomas da hipomania?
Os sintomas incluem autoestima inflada, necessidade reduzida de sono, fala acelerada, pensamentos rápidos, aumento de atividades dirigidas a objetivos e envolvimento com comportamentos de risco. Esses sinais devem durar pelo menos quatro dias para caracterizar um episódio. - Hipomania é um transtorno por si só?
Não. A hipomania é um episódio que geralmente faz parte do transtorno bipolar do tipo II, especialmente quando alterna com episódios de depressão. Isoladamente, ela não é considerada um transtorno autônomo. - É possível ter hipomania sem perceber?
Sim. Muitas pessoas não reconhecem que estão em um episódio hipomaníaco, pois sentem-se bem, produtivas e confiantes. No entanto, quem está ao redor costuma notar mudanças de comportamento, impulsividade ou agitação incomum. - Como a hipomania é diagnosticada?
O diagnóstico é clínico, baseado em entrevista com um profissional qualificado. São avaliados sintomas, duração, histórico de humor e impacto na vida cotidiana. O DSM-5 e a CID-11 são os principais manuais utilizados. - A hipomania precisa de tratamento mesmo que eu me sinta bem?
Sim. Embora a hipomania possa parecer positiva, ela pode evoluir para episódios mais graves ou provocar decisões impulsivas e arriscadas. O tratamento ajuda a estabilizar o humor e prevenir recaídas. - A terapia ajuda no controle da hipomania?
Com certeza. Psicoterapias baseadas em evidências, como a Terapia Cognitivo-Comportamental e a Terapia Interpessoal e do Ritmo Social, são eficazes para promover autorregulação emocional, consciência dos sintomas e estratégias de prevenção. - O que posso fazer para evitar que episódios hipomaníacos se repitam?
Manter uma rotina regular de sono, reduzir estímulos excessivos, identificar gatilhos emocionais e seguir o plano terapêutico são atitudes fundamentais. A terapia e, em alguns casos, a medicação preventiva também são importantes.
Palavras finais
A hipomania é uma expressão sutil, porém significativa, de instabilidade emocional. Por trás de seu brilho aparente, esconde riscos para a saúde mental e para os vínculos afetivos. Reconhecê-la é o primeiro passo para evitar ciclos de oscilação intensos no transtorno bipolar.
Saiba que é possível tratar a hipomania com eficácia, combinando terapia com prática baseada em evidências e, quando necessário, suporte psiquiátrico. Se você ou alguém próximo apresenta sintomas compatíveis, buscar tratamento especializado pode transformar o curso da vida emocional.
Por fim, experimente olhar para essas fases com curiosidade clínica, em vez de julgamento. Elas falam sobre o funcionamento do cérebro, mas também sobre estratégias que, um dia, fizeram sentido para lidar com o mundo. Com o devido apoio, novas formas de equilíbrio podem ser cultivadas.
Referências
- AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, 2014.
- OMS. ICD-11 Reference Guide. Geneva: World Health Organization, 2024.
- GHAEMI, Nassir. Mood Disorders: A Practical Guide. Lippincott Williams & Wilkins, 2007.
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