Você já saiu de uma sessão de terapia se perguntando se, sem querer, entrou na sala errada? Imagine só: você busca ajuda profissional esperando estratégias modernas e baseadas em ciência, mas recebe como conselho um sonoro “vá orar“. Pode até parecer cena de novela, mas esse tipo de recomendação é mais comum do que muita gente imagina.
Se essa situação parece absurda para alguns, para outros ela já virou parte da rotina. Mas afinal, o que significa receber uma orientação dessas em um ambiente que deveria ser neutro e acolhedor?
1. “Orar” faz parte da abordagem terapêutica?
Na prática, a recomendação para orar não faz parte das abordagens terapêuticas científicas e reconhecidas. Terapia, em geral, se baseia em métodos e técnicas com comprovação, tipo TCC, psicanálise, terapia breve.
Orar não faz parte da lista oficial, nem está no manual do psicólogo padrão. Se o Psicólogo manda você conversar com Deus ao invés de aplicar uma técnica, provavelmente está misturando crença pessoal com trabalho profissional.
E por quê? Porque a psicologia, assim como a medicina, tem o compromisso de ser neutra e baseada em evidências. Imagine um cardiologista dizendo: “Olha, esquece esse remédio para pressão, vai rezar um pouco“. Estranho, né? Psicologia não pode abrir exceção.
Quando um Psicólogo recomenda oração, ele está ultrapassando o limite do consultório e levando para a sessão aquilo que pertence à sua vida privada. E isso é até um problema ético!
Afinal, cada paciente é único e vem de contextos culturais, religiosos e espirituais diferentes. Misturar tudo mais atrapalha do que ajuda.
Você sabia?
O Conselho Federal de Psicologia orienta os profissionais a não imporem crenças religiosas nos atendimentos.
Na próxima seção vamos discutir um dilema ainda maior: e quando o paciente não tem religião? Será que a sugestão de orar ainda faz sentido?
2. E se você não for religioso?
A resposta aqui é direta: para quem não é religioso, sugerir oração em terapia simplesmente não faz sentido. Orar está ligada a um contexto de fé.
Quem não acredita em Deus, em divindades, ou simplesmente nunca se conectou com uma religião, vai achar a recomendação estranha, desconfortável, ou até desrespeitosa. Em vez de ajudar, cria uma barreira na relação com o Psicólogo.
Mas por que isso é tão importante?
Primeiro, porque a psicologia moderna entende que cada pessoa tem um universo interno único, com crenças, valores e até a ausência deles! Forçar práticas religiosas para quem não acredita nelas causa o efeito oposto ao desejado: gera irritação, afastamento e até sentimento de inadequação.
Imagine alguém tentando meditar em sânscrito sem nunca ter ouvido a palavra mantra. Não cola, né? Em vez de abrir espaço para o autoconhecimento, cria desconexão. Além disso, o respeito à diversidade é uma base fundamental da psicologia. O profissional deve adaptar as técnicas ao paciente, não o contrário.
Você sabia?
Mais de 8% da população se declara sem religião. Ou seja: a cada 12 pessoas, pelo menos uma não teria como seguir esse tipo de sugestão do Psicólogo!
Na próxima seção vamos falar de um mistério ainda maior… O que será que o terapeuta espera que aconteça quando sugere a oração? É milagre ou estratégia?Psicólogo
3. O que o Psicólogo espera que aconteça?
Será que ele imagina que você vai sair da sessão e, num passe de mágica, todos os problemas vão sumir? Ou será que ele só queria se livrar de um assunto difícil? Parece brincadeira, mas esse é um daqueles conselhos que levantam mais dúvidas do que respostas!
A verdade é: quando um Psicólogo sugere oração, normalmente ele está tentando ajudar o paciente a lidar com sentimentos difíceis. Pode ser ansiedade, tristeza, medo, raiva… Ele acredita que orar trará alívio, conforto ou até clareza sobre algum dilema.
Mas, atenção: isso é uma aposta e nem sempre funciona, principalmente se a pessoa não tem vínculo com práticas religiosas.
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Veja só esta lista de possíveis intenções por trás da sugestão:
- Aliviar o sofrimento: o Psicólogo imagina que a oração trará paz ou calma em momentos de crise;
- Buscar sentido ou propósito: talvez ele queira que você encontre uma razão maior para enfrentar dificuldades;
- Desenvolver gratidão: orar é visto como um exercício para agradecer o que se tem, mudando o foco dos problemas;
- Aceitar situações difíceis: alguns Psicólogos acreditam que orar ajuda a aceitar coisas que não podemos mudar;
- Sentir-se acolhido: pode ser uma forma de você se sentir menos sozinho, mesmo que só no campo espiritual.
Mas será que funciona mesmo? Aqui está o segredo: essas intenções são atingidas de outras formas!
A terapia deve oferece várias estratégias práticas, como respiração, meditação, exercícios de autoaceitação e muito mais. A oração é só mais uma ferramenta, e não a única (nem a melhor para todos).
Você sabia?
Para quem acredita, a oração pode ajudar sim. Mas para quem não acredita… pode ter efeito zero, ou até negativo!
No próximo ponto, vamos entrar em uma questão polêmica: será que orar e meditar é tudo a mesma coisa, só mudando o nome?
4. Existe uma distinção entre orar e meditar
Se seu Psicólogo dissesse medite ao invés de ore, você acharia mais moderno? Tem gente que acredita que orar é coisa de vó e meditar é coisa de guru do Instagram.
Mas será que existe mesmo tanta diferença assim ou é só trocar a embalagem do produto? Tem Psicólogo que fala em mindfulness e outros que mandam rezar… mas, no fim das contas, será que dá na mesma?
A resposta é: orar e meditar são coisas diferentes, mas também têm pontos em comum.
A oração, geralmente, é um diálogo com uma força superior (Deus, santo, entidade). Normalmente, envolve pedidos, agradecimentos ou desabafos espirituais. Já a meditação costuma ser uma prática mais interna, focada no silêncio, na respiração, no aqui e agora, sem necessariamente envolver crenças religiosas.
Para ficar ainda mais claro, o que geralmente diferencia oração de meditação:
- Oração:
Diálogo ou conversa com uma entidade divina;
Envolve palavras, pedidos, agradecimentos;
Normalmente ligada a tradições religiosas. - Meditação:
Prática de silêncio ou atenção plena;
Foco na respiração, pensamentos ou sensações;
Pode ser espiritual ou totalmente laica.
Mas também têm semelhanças!
- Ambas ajudam a acalmar a mente e diminuir o estresse;
- Podem servir para organizar ideias e sentimentos;
- São usadas para aumentar o bem-estar.
E por que tanta confusão? Porque muita gente mistura os conceitos, e tem Psicólogo que, para não assustar, troca o rezar por meditar achando que assim fica mais aceitável. Só que, para o paciente, pode fazer toda a diferença!
Leia também
Para quem não tem fé, meditar faz sentido; para quem é religioso, orar pode ser um alívio. Respeitar isso é fundamental.
Você sabia?
Existem técnicas chamadas de “meditação secular”, criadas justamente para pessoas que querem relaxar sem misturar religião!
Na próxima seção: é ético um Psicólogo recomendar práticas religiosas? Será que não está ultrapassando um limite?
5. Isso é ético?
Não é ético o Psicólogo impor práticas religiosas durante a terapia. Psicologia tem um código de ética bem claro. O profissional deve respeitar a diversidade e as crenças de cada paciente, sem forçar ou sugerir práticas espirituais que não façam parte da vida do outro.
O Psicólogo até pode acolher a espiritualidade do paciente, caso o próprio traga esse tema, mas jamais deve impor ou direcionar a conversa para práticas específicas, como orar, principalmente se isso parte da crença do próprio psicólogo.
Por que isso é importante:
- Porque cada paciente é único e tem sua própria história, inclusive no que diz respeito à religião (ou à falta dela);
- Porque a psicologia existe para acolher, nunca para julgar, forçar ou converter ninguém. Se um Psicólogo começa a usar a sessão como extensão da igreja, templo ou terreiro dele, está faltando com o respeito à autonomia do paciente;
- Porque isso gerta constrangimento, afastamento e até abandono do tratamento. E aí, quem perde é o paciente.
Veja algumas situações problemáticas:
- Paciente ateu ou de outra religião sente-se desconfortável;
- Terapia deixa de ser um espaço seguro;
- Paciente deixa de confiar no profissional.
Você sabia?
O Conselho Federal de Psicologia pode até abrir processo disciplinar caso receba denúncias de imposição religiosa no consultório!
No próximo ponto, um dilema curioso: orar pode impactar a relação entre vocês?
6. Orar vai impactar sua relação terapêutica?
Sim, esse tipo de sugestão abala a confiança e afetar negativamente a relação terapêutica. O espaço da terapia é, antes de tudo, um lugar seguro, livre de julgamentos e expectativas religiosas ou pessoais.
Se você sente que está sendo avaliado por sua fé (ou pela falta dela), o risco é grande: pode surgir insegurança, vergonha, ou até a vontade de esconder sentimentos reais para não ser reprovado na conversa.
Mas por que isso acontece?
- Quebra de neutralidade: o Psicólogo, ao sugerir práticas religiosas, dá a entender que tem preferências ou julgamentos;
- Sensação de inadequação: você sente que não se encaixa ou que está “errado” por não seguir o conselho;
- Diminuição da confiança: fica aquele receio de ser julgado, o que faz com que você não seja mais tão aberto na sessão.
Veja alguns sinais de que a relação está abalada:
- Você começa a evitar certos assuntos, com medo de receber conselhos religiosos;
- Fica com vontade de agradar o Psicólogo, ao invés de falar sobre seus verdadeiros sentimentos;
- Pensa em desistir da terapia ou mudar de profissional.
Você sabia?
A relação de confiança entre você e o Psicólogo é um dos maiores preditores de sucesso em qualquer abordagem!
Na próxima seção vamos explorar um dilema interessante: será que orar substitui outras técnicas?
7. Orar substitui outras estratégias?
A dúvida que não quer calar: será que esse tipo de orientação toma o lugar de ferramentas que realmente ajudam? Será que seu sofrimento vai ser tratado só com fé? Ou dá para juntar tudo e cada coisa tem seu papel.
A resposta aqui é categórica: oração não substitui as estratégias terapêuticas tradicionais. A terapia trabalha com métodos que têm fundamento científico, testados e aprovados para ajudar no autoconhecimento, no manejo das emoções e na solução de problemas.
Oração, quando faz sentido para o paciente, é apenas um complemento e nunca um substituto. Se o Psicólogo começa a usar só a fé como ferramenta, corre o risco de negligenciar técnicas essenciais do tratamento.
O que NÃO deve ser substituído por oração:
- Exercícios de respiração e relaxamento;
- Técnicas de reestruturação de pensamento (ex: TCC);
- Planejamento de metas e resolução de problemas práticos;
- Escuta ativa, acolhimento e validação das emoções.
Quando a oração entra como complemento:
- Quando somente você traz sua fé como recurso pessoal;
- Se a espiritualidade faz parte da história e ajuda na rotina;
- Sempre de modo voluntário, nunca imposto pelo profissional.
Misturar as coisas pode ser perigoso! Se o sofrimento tem causas biológicas, sociais ou emocionais, só orar atrasa o diagnóstico e o tratamento correto. Terapia não é religião e vice-versa.
É preciso cuidado para não cair na armadilha do “vai orar que resolve“, deixando de lado ferramentas valiosas que a ciência já provou que funcionam.
Você sabia?
Terapia e espiritualidade podem caminhar juntas, mas cada uma tem sua função. Em caso de dúvidas, sempre questione o profissional!
E vem mais polêmica aí: será que todo mundo recebe esse conselho, ou é só pra certos pacientes? Como o Psicólogo decide?
8. O Psicólogo recomenda o mesmo para qualquer paciente?
É comum se perguntar se o Psicólogo realmente avalia o perfil de cada pessoa antes de dizer “vá orar“, ou se simplesmente dispara esse conselho para todo mundo, igual vendedor de pomada milagrosa.
Um Psicólogo ético e profissional jamais deve dar a mesma recomendação religiosa para todos os pacientes. Cada pessoa tem uma história, valores, crenças e até limites muito diferentes.
Uma orientação que conforta um, pode incomodar profundamente outro. O Psicólogo precisa ser sensível, atento e, acima de tudo, personalizado no cuidado com cada pessoa que procura ajuda.
Veja quando isso pode virar problema:
- O Psicólogo não pergunta nada sobre sua fé e já sai recomendando oração;
- Parece que está lendo um roteiro engessado, sem ouvir sua história;
- Você percebe que outras pessoas do grupo ou conhecidos recebem o mesmo conselho, independentemente da situação.
E quando é feito do jeito certo?
- O Psicólogo escuta sua história, suas crenças (ou a falta delas);
- Só sugere práticas alinhadas ao seu perfil, respeitando seus limites e vontades;
- Valoriza seu jeito único de lidar com a vida, sem copiar receita pronta.
Isso é fundamental porque, se a sugestão de orar virar regra da casa, corre-se o risco de invalidar a experiência de quem pensa diferente, desrespeitar trajetórias diversas e até afastar pacientes do tratamento.
Você sabia?
Na psicoterapia moderna, a palavra-chave é individualização. O que serve para um paciente pode ser totalmente inútil ou até nocivo para outro!
E se você não quiser seguir o conselho? Será que pode recusar sem medo de estragar a terapia?
9. Você pode recusar a sugestão sem prejudicar a terapia?
Sim, você pode e deve recusar qualquer orientação que não faça sentido, inclusive a sugestão de orar, sem medo de atrapalhar sua terapia. Terapia é um espaço seu, de liberdade, respeito e autonomia.
O Psicólogo está ali para acolher sua individualidade, não para impor práticas, crenças ou qualquer coisa que fuja do que você acredita (ou não acredita). Se a proposta não encaixa na sua vida, o profissional precisa escutar, acolher e buscar outras estratégias que respeitem seu jeito de ser.
Veja algumas dicas práticas para lidar com isso:
- Fale abertamente: diga, sem medo, que não se sente confortável com a sugestão;
- Peça alternativas: pergunte por outras técnicas ou práticas que se encaixem melhor no seu perfil;
- Observe a reação: o Psicólogo respeita sua posição? Se sim, ponto para ele. Se não, vale repensar a continuidade do atendimento.
Lembre-se: O código de ética do psicólogo garante que o paciente tem o direito de não aceitar condutas, propostas ou sugestões que não lhe sirvam. Seu bem-estar é a prioridade!
E para não deixar dúvida: recusar a sugestão não prejudica sua terapia. Na verdade, mostra maturidade e fortalece a relação de confiança, porque deixa claro que você está à vontade para ser quem é de verdade.
E aí, percebeu como essa conversa vai muito além da religião? O importante é sempre se sentir respeitado e ouvido.
Palavras finais
O recado principal é claro: terapia é, acima de tudo, espaço de respeito à sua individualidade. Não importa se você ora, medita, reflete, escreve ou prefere ouvir música para se acalmar. O importante é você se sentir acolhido, livre para dizer “sim” ou “não”, e saber que sempre há outras estratégias para lidar com o sofrimento: estratégias baseadas em ciência, empatia e, acima de tudo, humanidade.
Pra deixar tudo ainda mais simples, aqui vai um resumo:
O que você não precisa aceitar em terapia:
- Conselhos que não fazem sentido pra sua realidade;
- Imposição de crenças ou práticas religiosas;
- Pressão para compartilhar experiências íntimas;
- Falta de respeito à sua individualidade.
O que você pode esperar de um bom Psicólogo:
- Acolhimento genuíno, sem julgamentos;
- Técnicas alinhadas ao que faz sentido pra você;
- Espaço para ser autêntico e falar de qualquer tema;
- Respeito absoluto à sua autonomia.
E pra fechar, fica a pergunta: você já recebeu algum conselho “inusitado” na terapia? Como reagiu?
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