Se você confessar um crime para seu psicólogo, ele vai te denunciar?

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Tempo de leitura: 16 minutos

Se você confessar um crime ao seu psicólogo, ele só te denuncia se houver risco atual para alguém. Caso contrário, o sigilo profissional é mantido.

Se você confessar um crime para seu psicólogo, ele vai te denunciar?

A resposta curta é: depende. Se o que você contar não colocar ninguém em risco agora, nem você, nem terceiros, o psicólogo vai ouvir, anotar, fazer cara de “tô processando” e seguir com a sessão.

Mas se a coisa for grave, atual e perigosa, ele deve quebrar o sigilo. E sim, isso inclui avisar a polícia, Conselho Tutelar ou outro órgão.

Ao longo deste artigo, você vai entender como funciona o sigilo profissional na psicologia, e por que ele não é tão absoluto quanto o do advogado ou do padre.

Abordo as regras, exceções, dilemas e até as tretas éticas que o psicólogo enfrenta quando ouve algo comprometedor. Nada de blá-blá-blá jurídico difícil: só explicação clara, com linguagem de gente real.

Você também vai descobrir o que o psicólogo deve fazer se você confessa, insinua ou planeja um crime, como ele decide se precisa agir, e o que acontece com ele (e com você) se o sigilo for rompido injustamente.

Por que vale a pena ler este artigo até o fim?

  • Porque você vai deixar de lado o medo de falar na terapia como se estivesse numa sala de interrogatório;
  • Vai entender até onde vai o sigilo, e onde ele se rompe;
  • Vai saber o que fazer se quiser desabafar sobre algo pesado, sem virar meme na delegacia;
  • E, de quebra, vai rir um pouco, porque aqui a gente fala de coisa séria com leveza (mas sem passar pano).

1. Ele é obrigado a denunciar às autoridades?

Na maioria dos casos, não. O psicólogo tem o dever de sigilo, o famoso “boca de siri profissional“. Mas… tem exceções. (Sempre tem, né? Nem o segredo do cofre da vó escapa de certas situações.)

O que é esse tal de sigilo profissional?

O sigilo é tipo um contrato invisível entre você e o psicólogo. O que você fala no consultório, fica no consultório. É como Las Vegas, só que com menos luzes e mais choro.

Esse sigilo é garantido por lei (Código de Ética Profissional do Psicólogo, Art. 9º e 10º) e serve para você se sentir seguro ao abrir o jogo.

Mas atenção: o sigilo não é um superpoder absoluto. Não transforma o psicólogo em cúmplice ou escudo humano.

Quando o psicólogo pode abrir o bico?

A regra é: só quebra o sigilo se houver risco real e atual para você ou para outras pessoas.

Veja alguns exemplos:

SituaçãoPode quebrar sigilo?
Você matou uma galinha em 1998Não
Você ameaça matar o vizinho hoje à noiteSim
Você bateu o carro fugindo da políciaDepende
Você está planejando um crimeProvavelmente sim

Em geral, se o crime já passou e não há risco para ninguém agora, o psicólogo guarda o que você contou. Mas se o que você disser envolver violência em andamento, abuso de menor ou ameaça de morte, aí ele vai acionar as autoridades ou outro profissional.

Mas não é traição?

Pode parecer. Mas pense assim: o psicólogo não tá lá pra te ferrar, e sim pra te ajudar a não ferrar mais ninguém, incluindo você mesmo. O sigilo existe pra proteger o vínculo, mas a vida e a segurança das pessoas vêm primeiro.

Então, se você falar algo do tipo “tô pensando em fazer uma besteira com fulano“, o psicólogo vai sim buscar ajuda, e talvez te oriente a se entregar de forma mais suave.

Se o psicólogo quebra o sigilo sem motivo legal ou ético, ele será processado, punido pelo Conselho de Psicologia e até perder o registro profissional.

Agora vamos falar sobre quando o psicólogo pisa na bola, e o que você pode fazer se ele abrir a matraca sem ter motivo.


2. O que acontece se o psicólogo quebrar o sigilo sem base legal?

Se o psicólogo abrir a boca sem ter motivo legal ou ético pra isso, ele levará chumbo grosso. E você, como paciente, poderá entrar com processo e pedir indenização. Porque não é só feio: é crime, é infração ética, e é quebra de confiança.

Psicólogo não é fofoqueiro profissional

Quando você conta algo na terapia, você tá abrindo o coração, as entranhas emocionais e, às vezes, uns podres também.

Se o psicólogo resolve contar isso pra terceiros, sem risco à vida, sem autorização, sem necessidade, ele tá quebrando o código de ética e jogando a profissão no lixo.

E a punição pode vir de três lados:

  1. Do Conselho Regional de Psicologia, com advertência, suspensão ou até cassação do registro.
  2. Do Judiciário, com processo por danos morais (e às vezes materiais).
  3. Da sociedade, com fama de antiético e zero pacientes no consultório.

E como você deve agir?

Se você se sentiu prejudicado, o caminho é:

  1. Reúna provas: gravações, prints, testemunhas.
  2. Faça uma denúncia ao Conselho de Psicologia: o site do CRP da sua região tem canal próprio.
  3. Procure um advogado: principalmente se você quiser pedir indenização na Justiça.

Simples assim. E necessário, porque o sigilo não é só regra interna da psicologia. Ele é um direito seu como paciente.

Mas cuidado com confusões!

Nem toda quebra de sigilo é ilegal. Por exemplo:

  • Se você autorizou por escrito, não tem crime.
  • Se havia risco de vida, o psicólogo justificará.
  • Se a Justiça determinou e havia base legal, terá sido forçado.

Por isso, antes de processar, tente entender o contexto. E, se puder, converse com outro psicólogo de confiança.


3. Existe alguma diferença se o crime aconteceu há tempo ou está acontecendo?

Sim, existe. Quando o crime já ficou lá no passado e não tem ninguém correndo perigo agora, o psicólogo geralmente mantém o sigilo. Mas se o “pecado” ainda tá fresquinho, ou se você planeja repetir a dose, aí o caldo pode entornar.

O tempo cura… ou pelo menos alivia a treta

Na prática, o psicólogo vai avaliar se o que você contou representa algum risco atual. E isso é importante: o foco não é no crime em si, mas no perigo que ele ainda pode causar.

  • Matou alguém há 15 anos? Terrível, mas se não há mais vítimas potenciais, o psicólogo provavelmente não vai te denunciar.
  • Tá batendo na esposa até hoje? Aí sim, meu caro, o sigilo irá pelo ralo.

Resumo da ópera: O que passou, passou. O que continua passando, preocupa. E o que ainda vai passar… bom, talvez você passe na delegacia.

Por que essa diferença?

O Código de Ética do psicólogo prioriza o bem-estar das pessoas envolvidas. Se o que você fez deixou feridas, mas não há perigo novo, o psicólogo vai te ajudar a lidar com isso, emocionalmente, não judicialmente.

Mas se o que você fez ou faz põe outras pessoas em risco, aí ele precisa agir. Afinal, ética sem ação é só discurso bonito.

E como o psicólogo descobre se há perigo?

Ele vai analisar algumas coisas, tipo:

  • Você mostra arrependimento ou tá rindo do que fez?
  • Tem alguém vulnerável no meio (criança, idoso, parceiro)?
  • Você tem histórico de repetir esse comportamento?
  • Você diz que voltará a fazer?

Se as respostas acendem sinal vermelho, o psicólogo vai:

  • Te alertar sobre os riscos legais;
  • Sugerir que você procure um advogado;
  • E em casos graves, sim, notificar autoridades.

Se o crime envolver criança ou adolescente em situação de abuso, o psicólogo é obrigado por lei a notificar o Conselho Tutelar ou outro órgão de proteção, mesmo que isso quebre o sigilo.

Na próxima seção, vamos bater na porta do tribunal: O psicólogo é obrigado a testemunhar contra você, mesmo que tudo tenha sido dito em segredo?


4. O psicólogo é obrigado a testemunhar contra você?

Pode ser chamado? Sim. É obrigado a falar? Nem sempre. O psicólogo pode ser convocado como testemunha, mas ele tem o direito e muitas vezes o dever de se recusar a contar o que ouviu em sessão. É tipo ser chamado pra fofoca e responder: “não posso comentar“.

Mas pera lá, o juiz não manda em tudo?

Muita gente pensa que só porque o juiz chama, todo mundo tem que abrir a boca. Mas a história é mais complexa. Psicólogos estão protegidos pelo sigilo profissional previsto em lei e no Código de Ética da profissão.

É como se o psicólogo tivesse um cofre na cabeça. E só abrirá se:

  • O paciente autorizar por escrito, ou
  • Houver risco grave à vida ou segurança de alguém.

Caso contrário, ele pode olhar pro juiz e dizer: “Excelência, com todo o respeito, vou ficar em silêncio que é mais seguro pra todo mundo.

E se for processo criminal? A coisa muda?

Pode esquentar, claro. Mas até em processos criminais, o sigilo do psicólogo continua valendo. Ele irá até o tribunal, mas:

  • Se o que for perguntado diz respeito a conteúdo confidencial de sessão, ele tem amparo legal para se recusar a responder.
  • Em alguns casos, pedir apoio ao Conselho Regional de Psicologia para proteger o sigilo.

O importante é: psicólogo não é informante da polícia. Ele é profissional de saúde mental, não detetive particular.

Quando o psicólogo pode falar, então?

Vamos deixar isso bem claro com esta tabela:

SituaçãoPsicólogo pode falar?
Paciente autoriza por escritoSim
Há risco de morte/abusoSim
Juiz convoca sem justificativaNão
Crime já passou e não há risco atualNão

Alguns psicólogos levam uma cópia do Código de Ética na bolsa. Vai que o juiz força a barra e eles precisam lembrar que a profissão tem lei própria, sim senhor!


5. É possível que o psicólogo te incentive a se entregar?

Sim, é possível. O psicólogo não vai te arrastar pelos cabelos até a delegacia, mas ele deve, sim, te incentivar a assumir a bronca. Não por moralismo, mas como parte da sua evolução emocional e psíquica.

E não, isso não é chantagem emocional. Isso é terapia de verdade: ajudar você a encarar as consequências dos seus atos como um ser humano responsável (mesmo que com culpa no cartório).

Psicólogo não é padre

A função do psicólogo não é te absolver. É te ajudar a entender o porquê de você ter feito o que fez. E, se necessário, te apoiar a reparar o estrago, dentro do possível.

Por isso, ele dirá coisas como: “Já pensou que encarar isso pode ser o primeiro passo pra sair desse buraco emocional?“, “Como você se sentiria se assumisse a responsabilidade pelo que fez?

Isso é provocar reflexão. Não é empurrar você pra cadeia, mas te puxar pra fora da negação.

E o que o psicólogo espera com isso?

Simples: que você pare de fugir. Porque a fuga constante consome energia, causa ansiedade, insônia e até problemas físicos.

Veja o que acontece quando você encara o problema com ajuda terapêutica:

AtitudePossível resultado
Encarar o que fez com apoioAlívio, recomeço, evolução
Fugir e esconder tudoCulpabilidade, medo, estagnação

O psicólogo te oferecerá suporte, não punição. Vai ouvir seus medos, planejar com você os próximos passos, e até ajudar a buscar um advogado, se você decidir se entregar.

E se eu não quiser me entregar?

Tudo bem. A decisão é sua. O psicólogo não vai te obrigar. Ele vai apenas:

  • Refletir com você sobre o impacto disso na sua vida;
  • Mostrar as consequências emocionais de viver se escondendo;
  • E respeitar sua escolha, desde que ela não envolva risco pra outras pessoas.

Assumir responsabilidades (inclusive legais) diminui sintomas de ansiedade e depressão em quem vive com culpa crônica.

Agora, bora fechar com chave de ouro, e com um toque de paranoia legítima: Se eu não confessar o crime, mas der muitas pistas… o psicólogo pode deduzir e mesmo assim me denunciar?


6. O psicólogo pode deduzir que você cometeu um crime e te denunciar?

Pode deduzir? Pode. Denunciar? Depende. Se o psicólogo juntar as peças e achar que você está só fazendo charadas sobre algo muito grave e perigoso, ele irá agir, mas só se houver risco atual e real para alguém.

Ou seja: “dar pistas” não te blinda. E o psicólogo não é burro.

Psicólogo também sabe fazer conta de 1 + 1

Se você disser:

  • Tem uma pessoa que eu conheço… que fez algo muito errado… envolvendo uma faca… num dia de fúria…” ou;
  • Digamos que eu , quer dizer, alguém, sabe onde está o corpo…

O psicólogo pode, sim, entender que você está tentando aliviar a culpa sem se comprometer diretamente. Mas se o conteúdo indicar perigo iminente, o sigilo será quebrado.

O que define se ele denuncia ou não?

O mesmo de sempre: o grau de risco atual.

Veja esse resumão:

SituaçãoAção do psicólogo
Pistas vagas e sem riscoMantém o sigilo
Pistas concretas com ameaça realDenunciar
Pistas + histórico perigosoProvavelmente intervém
Pistas só pra desabafarFica na terapia

Se o que você disse é só parte do seu processo de lidar com a culpa, e não indica que vai repetir o erro ou machucar alguém, o psicólogo segue no modo terapeuta.

Agora, se o clima na sessão começa a parecer cena de crime prestes a acontecer, ele pode ter que tomar providências.

E isso é legalmente permitido?

Sim. Porque o que vale não é se você falou diretamente ou não, mas o que o psicólogo entendeu sobre a situação de risco. E ele vai sempre agir com base:

  • Na proteção da vida;
  • No Código de Ética;
  • Na responsabilidade profissional.

Mas não vai sair correndo pro 190 só porque você falou “uma amiga minha fez algo errado“. Tudo tem contexto, e o psicólogo é treinado pra perceber isso.

Psicólogos escrevem anotações confidenciais sobre suas “pistas” e, em caso de emergência, usam esse material para justificar ações de proteção. Nada escapa ao prontuário.

E agora, o veredito final: Você pode falar sobre seus erros na terapia, sim. Só não transforme o consultório em uma trilha de migalhas de pão esperando que ninguém vá perceber. Psicólogo não é policial, mas também não é tonto.


Perguntas frequentes

  1. Se eu confessar um crime antigo, o psicólogo me entrega?
    Só se o crime ainda estiver causando risco. Se já passou e ninguém mais corre perigo, o sigilo é mantido.
  2. E se eu contar que cometi um crime ontem?
    Depende do crime e do risco atual. Se alguém ainda estiver em perigo, o psicólogo pode agir. Se não, ele escuta e anota.
  3. Confessar na terapia é como confessar na igreja?
    Não. O padre dá perdão. O psicólogo dá reflexão, e em certos casos, boletim de ocorrência (via terceiros).
  4. Posso confiar que o psicólogo vai guardar segredo pra sempre?
    Se não houver ameaça, sim. Se houver, aí o sigilo vira questão de segurança.
  5. O psicólogo vai me convencer a me entregar?
    Sim. Mas não é pra te ferrar, é pra você parar de viver fugindo da própria consciência.
  6. E se eu disser que “um amigo” cometeu um crime, mas for eu?
    O psicólogo vai sacar o jogo. Se ele entender que há risco, agirá mesmo sem confissão direta.
  7. Se ele me denunciar, posso processar ele?
    Só se a denúncia for sem justificativa legal. Se houve risco real, ele estava no dever de agir.
  8. Ele vai me avisar antes de ligar pra polícia?
    Se der tempo, sim. Mas se a coisa for urgente, ele agirá antes e explicará depois.
  9. O que acontece se ele contar pra alguém sem necessidade?
    Aí ele dança bonito: será punido pelo Conselho e até judicialmente.
  10. O psicólogo tem sigilo igual ao do advogado?
    Não. O advogado guarda segredo até do apocalipse. O psicólogo quebra em casos de risco.
  11. Posso contar um crime e pedir pra ele não anotar?
    Não. Ele precisa registrar o que for relevante clinicamente, e isso inclui coisas sérias.
  12. Se eu matar alguém e contar, ele me denuncia?
    Se o crime foi no passado e não há mais risco, ele provavelmente mantém sigilo. Mas espere um clima tenso.
  13. E se eu for psicopata e disser que vou matar de novo?
    Aí sim, meu consagrado. Prepare-se pra intervenção.
  14. O psicólogo será obrigado a testemunhar?
    Pode ser chamado, mas pode se recusar, com base no sigilo profissional.
  15. O psicólogo vai me julgar?
    Não. O papel dele é entender. Mas julgamento de risco, esse ele faz rapidinho.

Palavras finais

Chegamos ao fim, e se você leu tudo até aqui, parabéns: você já entende mais sobre sigilo terapêutico do que muito estudante de psicologia perdido no primeiro semestre. Mas vamos recapitular o espírito da coisa?

O psicólogo não é polícia, juiz, cúmplice nem confessionário. Ele é um profissional treinado pra escutar sem julgar, acolher sem acobertar, e cuidar sem carregar você no colo pra sempre.

O que ficou claro neste artigo:

  • O sigilo é a regra, e é sagrado. Mas não é absoluto;
  • A exceção aparece quando alguém está em risco, seja você ou outra pessoa;
  • Falar sobre um crime na terapia não significa automaticamente ser denunciado. Mas também não garante imunidade;
  • Dar pistas demais sem assumir nada é arriscado, o psicólogo pode juntar as peças e agir, se necessário;
  • Confessar com sinceridade é o primeiro passo pra uma mudança real, e o psicólogo está ali pra te ajudar, não te enterrar.

Se você cometeu um erro, carregar isso sozinho só aumenta o peso. A terapia será o único lugar onde você encara o espelho sem quebrá-lo. Mas pra isso funcionar, é preciso confiança. E entender que confiança também envolve responsabilidade.

  • Quer usar a terapia pra desabafar? Ótimo.
  • Quer usar a terapia pra evoluir? Melhor ainda.
  • Quer usar a terapia pra tentar escapar das consequências do que você fez? Aí complica.

Se você está em dúvida sobre o que contar, fale da sua dúvida primeiro.
Diga: “Tô pensando em te contar uma coisa séria, mas tenho medo de você me denunciar.” Pronto. Essa frase já abre a porta certa, com respeito, com honestidade e com cuidado.

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