Evite a terapia com abordagens não científicas

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Texto crítico que denuncia os riscos de psicoterapias não científicas e defende, com clareza e embasamento, a Psicoterapia Baseada em Evidências como única opção ética.

Evite a psicoterapia com abordagens não científicas

Vivemos uma era de crescente busca por saúde mental, mas também de vulnerabilidade diante de promessas terapêuticas sedutoras e infundadas. Em um cenário de sofrimento psíquico generalizado, muitos recorrem à terapia como uma tentativa legítima de alívio e transformação.

Contudo, nesse mesmo terreno fértil, têm proliferado práticas que se dizem científicas, mas carecem de validação científica e rigor ético.

A crise da terapia científica no Brasil evidencia um paradoxo inquietante: ao passo que aumenta a valorização social do cuidado psicológico, há também um alarmante crescimento de abordagens pseudocientíficas travestidas de ciência.

Essa realidade impõe riscos concretos: pacientes são prejudicados por intervenções ineficazes, confusas ou até perigosas. Neste artigo, proponho um caminho de esclarecimento, fundamentado nas diretrizes da terapia com prática baseada em evidências, para apoiar escolhas informadas e responsáveis.


Por que você deve evitar terapias com abordagens não científicas?

A seguir, apresento um argumento direto, crítico e fundamentado sobre por que somente a terapia com prática baseada em evidências deve ser considerada válida, e por que outras abordagens, embora populares ou tradicionalmente aceitas, falham nesse critério essencial:

Porque perderá dinheiro

Você aceitaria pagar por um tratamento médico que não tem previsão de término, nem evidências de que realmente funciona? Então por que aceitar isso na terapia?

Muitas abordagens não científicas se sustentam em sessões indefinidas, sem metas claras, transformando o processo em um ciclo eterno de gastos — e frustrações.

Em vez de trabalhar com objetivos mensuráveis e técnicas com eficácia comprovada, essas abordagens se apoiam em discursos subjetivos como “o tempo do paciente” ou “a jornada de autoconhecimento”. Mas será que isso justifica anos de investimento sem resultados concretos?

Agora, pense: quantos permanecem por anos em abordagens não testadas, pagando por cada sessão, sem jamais alcançar mudanças significativas? Isso não é cuidado. Isso é uma forma de exploração disfarçada de processo pessoal. E o mais grave: a pessoa ainda acredita estar “se tratando”.

     

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Investir em terapia sem evidência é como financiar um barco furado: você gasta, se desgasta, e nunca chega ao destino prometido. Por isso, buscar um processo validado não é apenas uma escolha clínica — é uma decisão de responsabilidade financeira, ética e humana.

Porque será manipulado

Quando você procura ajuda psicológica, está em um momento de fragilidade. E justamente por isso, você se torna mais suscetível à influência de quem ocupa a posição de autoridade na sessão.

Uma terapia que não segue métodos científicos não se ancora em protocolos, mas sim em opiniões pessoais, crenças subjetivas e interpretações livres — muitas vezes arbitrárias. Você consegue perceber o risco de entregar sua saúde mental a alguém que atua sem qualquer controle sobre o que está fazendo?

Sem evidência, o limite entre acolher e manipular se dissolve. Um terapeuta pode induzir você a aceitar explicações que fazem sentido apenas dentro da lógica pessoal dele, não dentro de critérios objetivos.

Isso significa que sua dor será reinterpretada de forma enviesada, moldada pelas crenças do profissional — e não pelo que é melhor para você. Você quer pagar por uma interpretação ou por um tratamento?

Terapias não científicas não utilizam instrumentos validados para checar a realidade do paciente, nem formas de mensurar mudanças cognitivas ou comportamentais. Isso abre caminho para que o “sucesso” dependa apenas da narrativa do terapeuta. E quando a única bússola é a fala do profissional, qualquer coisa pode ser dita — inclusive o que não tem fundamento.

Quando não há ciência, o que sobra é carisma. E o carisma, em vez de cura, se torna um instrumento sutil de controle psicológico, reforço de dependência e fidelização comercial do sofrimento.

Você quer um terapeuta que avalia, confronta, e promove autonomia com base em evidências — ou alguém que dita verdades baseadas em achismos?

Porque colocarão a culpa em você

Um dos efeitos mais nocivos das abordagens não científicas é o modo sutil (ou nem tanto) como o fracasso será frequentemente transferido para você. Quando não há evidência de eficácia, o terapeuta se protegerá dizendo que “você não se entregou”, “não estava pronto” ou “está resistindo ao processo”.

Mas será que é justo te responsabilizar em procurar ajuda — e está vulnerável — por algo que, na verdade, falhou por falta de método?

Ao invés de revisar sua técnica ou buscar um modelo com base científica, muitos terapeutas apegados a métodos intuitivos preferem uma saída fácil: culpar você.

Isso destruirá sua autoconfiança. Você começará a acreditar que é o problema, e não a ineficácia da abordagem. Isso não é só injusto — é cruel. E mais: é um abuso psicológico travestido de processo terapêutico.

Você se sentiria seguro sendo atendido por um profissional que, diante da sua dor, diz que a culpa da falta de melhora é sua? Que diz que você precisa “mergulhar mais fundo”, “abrir o coração”, “confiar no universo”, ao invés de seguir um protocolo com base em evidências clínicas reais? Quantas pessoas foram retraumatizadas por esse tipo de discurso?

Não é você que deve se adaptar à abordagem, mas a abordagem é que deve ser capaz de se adaptar à você, e sobretudo funcionar.

Porque sairá pior do que chegou

Você já pensou que procurar ajuda pode, paradoxalmente, piorar sua saúde mental? Parece absurdo, mas é exatamente isso que acontece com muitos pacientes submetidos a terapias não científicas.

Sem técnicas validadas, sem protocolos de segurança e sem aferição de resultados, essas abordagens oferecem mais riscos do que benefícios. Ao invés de acolhimento efetivo, você encontrará experimentações subjetivas travestidas de cuidado. O pior: você muitas vezes nem perceberá que saiu pior, só que “a terapia não ajudou”.

Você procura ajuda e está vulnerável. E justamente por isso, não deve ser exposto a abordagens experimentais, subjetivas ou místicas. É inaceitável que entre em um processo terapêutico com dor e saia dele com mais dor, mais dúvidas e mais dependência emocional.


Quais são as terapias com prática baseada em evidências?

Com base nos dados do CensoPsi 2022, organizado pelo Conselho Federal de Psicologia, as proporções nacionais por abordagem teórica no Brasil são as seguintes:

AbordagemBaseada em evidências?Proporção nacional
PsicanalíticaNão37%
ComportamentalSim25%
Fenomenológica
Humanista
Parcialmente24%
CognitivistaSim23%
Sócio-históricaParcialmente16%
ExistencialistaNão8%
OutrasNão4%

Esses dados são apresentados na Tabela 1 do Volume 2 do CensoPsi e mostram uma ampla diversidade teórica entre os profissionais da Psicologia em todo o país, com variações modestas entre as regiões brasileiras.

Entre as terapias com prática baseada em evidências (Evidence-Based Practice), apenas as terapia comportamentais e cognitivistas como Terapia cognitivo comportamental (TCC) e, em menor grau, algumas de terceira geração como a Terapia de aceitação e compromisso (TAC) e Terapia comportamental dialética DBT), são plenamente reconhecidas.

Todas elas atendem aos principais critérios exigidos pela ciência para validar uma prática terapêutica eficaz. A seguir, explico por que isso ocorre:

  • Testabilidade e falseabilidade
    As terapias comportamentais e cognitivas se baseiam em hipóteses claras e testáveis sobre como pensamentos, emoções e comportamentos estão interligados. Isso permite que suas intervenções sejam avaliadas cientificamente: é possível prever efeitos, testá-los em diferentes populações e verificar se são replicáveis.
  • Pesquisas com grupos de controle
    Essas abordagens foram amplamente testadas em ensaios clínicos randomizados (RCTs) — o padrão-ouro da pesquisa científica. Nesses estudos, pacientes são divididos em grupos (tratamento vs. controle) para isolar os efeitos da terapia. A TCC, por exemplo, tem eficácia comprovada para depressão, ansiedade, transtornos alimentares, fobias, TOC, entre outros.
  • Meta-análises e revisões sistemáticas
    A eficácia da TCC e das terapias comportamentais é sustentada por meta-análises, que compilam resultados de dezenas (ou centenas) de estudos e mostram que os efeitos são consistentes e superiores ao placebo ou à ausência de tratamento. Isso dá robustez estatística aos resultados, algo ausente em muitas abordagens não científicas.
  • Mensuração de resultados
    As terapias baseadas em evidências utilizam instrumentos padronizados de avaliação (como escalas de depressão, ansiedade, qualidade de vida) antes, durante e depois do tratamento. Isso permite medir objetivamente a melhora do paciente, o que é essencial para garantir a eficácia e ajustar o plano terapêutico se necessário.
  • Atualização contínua e integração com a ciência
    TCC e terapias comportamentais evoluem com os avanços das neurociências, psicologia experimental e psiquiatria. Não são modelos fechados ou dogmáticos: seus protocolos são constantemente revisados, atualizados e expandidos (ex: terapias de terceira onda como ACT e DBT). Isso reforça seu compromisso com a evidência e com o paciente.

Por esses motivos, instituições internacionais como a American Psychological Association (APA), o NICE (Reino Unido) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendam a TCC e terapias comportamentais como primeira linha de tratamento para diversos transtornos psicológicos.


Como identificar se a terapia é com prática baseada em evidências?

Felizmente, existem critérios claros que qualquer pessoa pode usar para avaliar a seriedade de um tratamento terapêutico. Esses critérios envolvem três eixos principais:

  1. Formação do profissional: Verifique se o terapeuta tem formação em abordagens reconhecidas, como TCC, ACT, DBT, TIP;
  2. Uso de manuais e protocolos clínicos: A terapia com prática baseada em evidências preconiza o uso de intervenções sistematizadas, com metas claras, avaliações periódicas e instrumentos padronizados.
  3. Alinhamento com o DSM-5 ou CID-11: diagnósticos devem ser baseados em critérios objetivos e internacionalmente reconhecidos, não em interpretações subjetivas ou espirituais.

Quem busca terapia merece respeito, clareza e resultados concretos. Escolher uma abordagem baseada em evidências é garantir que seu sofrimento será tratado com métodos testados, validados e supervisionados por critérios objetivos.

Exigir fundamentação científica não é desvalorizar o lado humano da terapia, mas ao contrário, valorizá-lo com responsabilidade.


Palavras finais

No momento em que você escolhe uma abordagem terapêutica, está fazendo muito mais do que iniciar um processo de autoconhecimento — está confiando sua saúde mental a um método que pode ou não funcionar. Optar por uma terapia não científica é aceitar um risco oculto: o de investir tempo, dinheiro e esperança em algo que não tem qualquer garantia de eficácia.

Muitas abordagens não científicas vendem promessas vazias com discursos encantadores e jargões rebuscados, mas carecem de qualquer comprovação prática. Elas sobrevivem não porque funcionam, mas porque sabem se promover.

A ciência, por outro lado, exige resultados, dados, replicabilidade. Não é uma questão de “crença”, é uma questão de compromisso com a sua melhora real. Escolher uma terapia com prática baseada em evidências é escolher um caminho que respeita a sua dor com responsabilidade, e não com misticismo travestido de cuidado.

Portanto, a sua escolha de abordagem terapêutica deve ser crítica, informada e sem concessões ao modismo ou à tradição acrítica. O sofrimento psíquico deve ser tratado com o mesmo rigor, respeito e responsabilidade que qualquer outra condição de saúde. E só há um caminho seguro para isso: a ciência.

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