Encontrar um bom profissional para lidar com o TDAH não é tão simples quanto parece. Muitos dizem que entendem do assunto, mas, na prática, nunca acompanharam um caso de verdade.
Outros se apoiam apenas em cursos rápidos ou repetem frases prontas sem saber o que estão fazendo. Isso coloca vidas em risco, principalmente quando envolve crianças que acabam medicadas sem necessidade ou adultos que seguem se culpando por não “dar conta”.
Ao ler este artigo até o fim, você vai aprender:
- 5 perguntas simples que revelam se o profissional realmente tem experiência com TDAH
- Como interpretar as respostas para não cair em promessas vazias
- O que é esperado de um atendimento sério, baseado em evidências
- Como identificar sinais de despreparo logo na primeira conversa
- Dicas práticas para buscar ajuda qualificada, tanto para crianças quanto para adultos
Se você quer começar com o pé direito, a primeira pergunta que você deve fazer ao profissional é direta, mas poderosa: “Você já acompanhou muitos casos de TDAH? Em crianças ou adultos?“
1. Você já acompanhou muitos casos de TDAH?
Essa pergunta é simples, mas revela muito. Quando buscamos ajuda para o TDAH, queremos alguém que realmente entenda do assunto, não alguém que apenas leu sobre isso numa pós-graduação ou viu um vídeo no YouTube.
Perguntar sobre a experiência prática do profissional ajuda você a separar quem tem vivência real de quem só repete o que ouviu por aí. Um profissional que de fato trabalha com TDAH vai responder com naturalidade e detalhes. Ele pode dizer, por exemplo:
- “Sim, atendi mais de 50 crianças com diagnóstico confirmado.“
- “Tenho acompanhado adultos com TDAH em psicoterapia semanal.“
- “Atualmente acompanho casos com diferentes níveis de gravidade, inclusive em contextos escolares.“
Se a resposta for vaga ou genérica, ligue o alerta. Especialistas sérios sabem quantos casos já acompanharam, de que tipo, e em qual faixa etária. Eles não titubeiam.
Também costumam explicar que o TDAH se manifesta de formas diferentes em crianças, adolescentes e adultos, e que é preciso ajustar o tratamento a cada fase da vida.
O TDAH não desaparece na vida adulta, ele muda de forma. O que era hiperatividade na infância vira impulsividade e desatenção crônica no trabalho ou nas relações.
Outro ponto importante: bons profissionais reconhecem suas limitações. Se ele disser algo como “Trabalho só com crianças, mas posso te indicar alguém para adultos“, isso mostra ética e compromisso com o bem-estar do paciente. Melhor ouvir isso do que um “dou conta de tudo” sem base.
Confira alguns sinais de resposta confiável:
- Cita casos reais (sem violar sigilo).
- Fala com segurança e clareza.
- Diferencia crianças de adultos no modo de atendimento.
- Mostra respeito pelo tempo e sofrimento do paciente.
Por outro lado, desconfie se ouvir frases como:
- “Ah, TDAH é tudo igual, não tem segredo.“
- “A maioria só precisa de disciplina.“
- “Nunca atendi diretamente, mas li muito sobre o assunto.“
Não basta o profissional gostar do tema. Experiência clínica é o que conta.
Agora que você já sabe como filtrar quem realmente trabalha com TDAH, é hora de avaliar se o profissional sabe fazer o diagnóstico corretamente. Afinal, identificar TDAH não é só conversar por 20 minutos e sair com um laudo na mão.
Sabia que você pode agendar sua consulta com apenas um clique?
2. Como você costuma fazer o diagnóstico de TDAH?
Essa pergunta revela se o profissional é criterioso ou faz diagnósticos no achismo. Muita gente sai do consultório com um laudo de TDAH depois de uma conversa rápida. Isso é grave. Um diagnóstico sério exige muito mais do que opinião. Envolve escuta qualificada, instrumentos padronizados e tempo de investigação.
Um profissional experiente nunca se baseia apenas no que o paciente diz. Ele vai explicar que o diagnóstico de TDAH deve seguir critérios do DSM-5, usar entrevistas estruturadas e aplicar escalas validadas.
O diagnóstico de TDAH exige que os sintomas estejam presentes em pelo menos dois contextos (como casa e escola) e tragam prejuízo real na vida da pessoa.
Veja como um especialista costuma responder essa pergunta com clareza:
- “Eu aplico a Escala SNAP-IV e a ASRS (para adultos), além de entrevistar familiares e professores.“
- “A consulta inicial é só o começo. Eu preciso de ao menos 2 a 3 encontros para fechar o diagnóstico.“
- “Uso também observações clínicas, análise de histórico escolar e, se necessário, trabalho em conjunto com neurologistas e psiquiatras.“
Se o profissional diz que “bate o olho e já percebe“, isso é um sinal de alerta. O TDAH pode ser confundido com outros quadros, como ansiedade, depressão ou até abuso de telas. Por isso, um bom profissional não se precipita. Ele quer ter certeza.
Respostas que demonstram seriedade:
- “Uso instrumentos científicos reconhecidos.“
- “Levo tempo para fechar um diagnóstico.“
- “Faço uma avaliação multidimensional.“
Respostas que sugerem despreparo:
- “Na primeira sessão já sei se é TDAH.“
- “É só ver se a pessoa é muito agitada.“
- “Testes são bobagem, o que vale é minha escuta.“
A Organização Mundial da Saúde recomenda entrevistas estruturadas como o K-SADS para crianças e adolescentes, e o DIVA 2.0 para adultos.
Diagnóstico feito com responsabilidade salva vidas e evita rótulos indevidos. E mais: um bom diagnóstico é o primeiro passo para um bom tratamento.
Na próxima seção, vamos ver se o profissional conhece e respeita as abordagens mais eficazes no tratamento do TDAH, ou se ele ainda acha que “Ritalina resolve tudo“.
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3. Qual a sua visão sobre o tratamento do TDAH?
Essa pergunta vai direto ao ponto: o profissional entende que o TDAH precisa de um tratamento completo, ou acha que só um remédio resolve tudo?
Muitos pacientes chegam ao consultório com o diagnóstico certo, mas com um cuidado pela metade, sem orientação terapêutica, sem apoio à família e, muitas vezes, com medicação mal ajustada.
A resposta ideal inclui uma visão multidisciplinar. Um bom profissional vai falar sobre o uso racional de medicamentos (como os psicoestimulantes), mas nunca como única solução.
Ele sabe que terapia, treino de habilidades sociais, apoio à família e intervenções escolares também são fundamentais.
Respostas comuns entre especialistas:
- “A medicação pode ajudar, mas o tratamento completo inclui terapia e orientações para o dia a dia.“
- “Trabalho em parceria com médicos, professores e cuidadores.“
- “Busco estratégias para melhorar a atenção, a organização, o sono e o manejo emocional.“
Segundo o Manual de Intervenções Psicológicas Baseadas em Evidências (APS, 2018), a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) adaptada para TDAH adulto tem forte eficácia científica.
Por outro lado, cuidado com profissionais que oferecem soluções simples demais. Se alguém diz:
- “É só tomar Ritalina e tá resolvido.“
- “TDAH não se trata, só se aprende a conviver.“
- “Isso passa com o tempo, não precisa fazer nada.“
… então essa pessoa não está atualizada com a prática baseada em evidências. Tratamento não é só remédio. E não é só conversa. É um plano de cuidado contínuo, com metas claras.
Busque profissionais que falam com segurança sobre diferentes frentes do tratamento, como:
- Terapia comportamental
- Psicoeducação para pais
- Ajustes no ambiente escolar
- Treino de organização e planejamento
Agora que você já sabe identificar quem tem uma visão completa do tratamento, na próxima seção vamos tratar de outro ponto fundamental: saber diferenciar TDAH de outros problemas parecidos. Porque errar no diagnóstico é mais comum do que parece, e tem consequências sérias.
4. Você diferencia TDAH de outros problemas parecidos, como ansiedade ou dificuldades de aprendizagem?
Essa pergunta é essencial para evitar diagnósticos errados e tratamentos ainda piores. Muita gente que recebe um laudo de TDAH, na verdade, tem outro tipo de sofrimento: pode ser ansiedade, trauma, dislexia ou até depressão infantil.
Um bom profissional sabe que o TDAH se confunde com muitos quadros e não se precipita.
Crianças ansiosas muitas vezes parecem distraídas, mas, na verdade, estão presas em pensamentos preocupantes. Isso parece TDAH, mas não é.
Um profissional sério vai te responder algo mais ou menos assim:
- “Sim, sempre considero outras possibilidades antes de concluir.“
- “Faço diagnóstico diferencial com ansiedade, depressão, autismo e dificuldades escolares.“
- “Trabalho com outros profissionais para entender a fundo o quadro clínico.“
Essas respostas mostram que ele sabe que o TDAH não é um diagnóstico fácil. O profissional que realmente entende do assunto vai investigar com profundidade, perguntar sobre o sono, o ambiente familiar, o histórico escolar e até se houve traumas recentes.
Cuidado com respostas rasas como:
- “Ah, dá pra ver na hora quem tem TDAH.“
- “Se é agitado e bagunceiro, com certeza tem.“
- “A escola disse que era, então é.“
Essas falas revelam falta de critério clínico. Pior: colocam alguém em tratamento errado, com medicação desnecessária e sem apoio psicológico adequado.
Especialistas costumam dizer:
- “Preciso avaliar com calma, porque vários transtornos compartilham sintomas parecidos.“
- “Nem todo comportamento agitado é TDAH . Há crianças mal orientadas ou vivendo situações estressantes.“
- “Faço sempre diagnóstico diferencial antes de qualquer laudo.“
Na próxima seção, vamos tocar num ponto decisivo: saber se o profissional tem preparo para acompanhar o paciente por meses ou até anos, e não apenas “dar o diagnóstico e sumir“.
5. Você acompanha pacientes com TDAH a longo prazo?
Essa pergunta mostra se o profissional está disposto a caminhar junto, ou se é daqueles que somem depois do primeiro laudo. Infelizmente, é comum ver diagnósticos feitos com pressa e nenhum plano de cuidado posterior. Mas o TDAH não se trata num dia só: exige constância, ajustes e apoio contínuo.
O TDAH é um transtorno crônico. Ele pode melhorar, mas não passa de uma hora para outra. O sucesso do tratamento depende muito de acompanhamento a médio e longo prazo.
Um bom profissional vai te responder com um plano, não com uma promessa. Algo como:
- “Sim, costumo acompanhar o paciente por meses ou até anos, com sessões regulares.“
- “Reavalio o tratamento a cada etapa: escola, adolescência, vida adulta.“
- “Acompanho também a família, principalmente em casos de crianças.“
Essas respostas mostram comprometimento, ética e preparo técnico. O acompanhamento não precisa ser semanal para sempre, mas deve existir uma estratégia clara: encontros mensais, revisões trimestrais, ajustes terapêuticos, troca com a escola ou com a equipe médica.
Agora veja o que você não quer ouvir:
- “Depois do laudo, não precisa de mais nada.“
- “É só tomar remédio, não tem muito o que fazer.“
- “A terapia pode atrapalhar se o remédio estiver funcionando.“
Essas falas revelam despreparo. Um profissional com formação sólida em TDAH sabe que a terapia fortalece a autonomia, ajuda a construir rotina, ensina autorregulação emocional e melhora relações familiares.
O que você deve buscar:
- Planos de tratamento com metas e revisão de progresso.
- Contato com a escola, família ou equipe médica, quando necessário.
- Flexibilidade para adaptar o plano ao longo da vida do paciente.
Resumo
Pergunta | O que você deve ouvir |
---|---|
Você já acompanhou muitos casos de TDAH? Em crianças ou adultos? | Respostas diretas com números, faixa etária atendida e exemplos. Profissionais éticos mencionam suas limitações e, se necessário, indicam outros especialistas. |
Como costuma fazer o diagnóstico de TDAH? Usa testes específicos ou só conversa clínica? | Explicações sobre uso de escalas padronizadas (ex: SNAP-IV, ASRS), entrevistas clínicas, escuta de professores e familiares, e tempo para observação antes de fechar o diagnóstico. |
Qual sua visão sobre o tratamento do TDAH? Inclui medicação, terapia ou outras abordagens? | Mostra visão integrada: psicoterapia, orientação familiar, suporte escolar e, quando indicado, uso conjunto com medicação. Valoriza trabalho em equipe com outros profissionais. |
Você diferencia TDAH de outros problemas parecidos, como ansiedade ou dificuldades de aprendizagem? | Demonstra cuidado com o diagnóstico diferencial. Cita outros transtornos possíveis e fala da importância de não confundir sintomas com problemas de outra origem. |
Você acompanha pacientes com TDAH a longo prazo? Como costuma ser esse acompanhamento? | Explica como funciona o acompanhamento contínuo. Menciona metas de médio prazo, revisões, contato com escola e família. Mostra que tratamento não é pontual, mas um processo contínuo. |
Perguntas frequentes
- Como saber se o profissional realmente tem experiência com TDAH?
Pergunte quantos casos ele já atendeu e em que faixas etárias. Especialistas respondem com clareza e números, sem rodeios. - É verdade que dá pra identificar TDAH só pela conversa?
Não. Diagnóstico sério exige testes, escalas e observação. Quem se baseia apenas na conversa pode errar feio. - O TDAH pode ser confundido com outros problemas?
Sim! Ansiedade, dislexia, depressão e até traumas podem parecer TDAH, mas são coisas diferentes. O profissional precisa saber diferenciar. - Terapeuta pode receitar Ritalina?
Não. Só médicos podem prescrever. Mas o terapeuta deve orientar sobre o uso responsável da medicação, quando for indicada. - Todo paciente com TDAH precisa tomar remédio?
Não. Depende do caso. Muitos melhoram só com terapia e apoio familiar. Outros precisam da combinação com medicação. - O profissional deve acompanhar a escola da criança?
- Sim, sempre que possível. Profissionais sérios entram em contato com professores para entender melhor o contexto do aluno.
- Existe tratamento para adultos com TDAH?
Sim. Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) adaptada funciona muito bem, ajudando com organização, foco e impulsividade. - Quanto tempo dura o tratamento do TDAH?
Varia. Pode durar meses ou anos. O mais importante é ter acompanhamento constante, com revisões e ajustes ao longo da vida. - Posso confiar num diagnóstico feito em uma única sessão?
Provavelmente não. Diagnóstico bem feito leva tempo. Desconfie de quem fecha laudo na primeira conversa. - O que mais preciso observar antes de confiar num profissional?
Se ele escuta com atenção, explica o processo com clareza, usa ferramentas científicas e respeita seus limites, esse sim, é confiável.
Palavras finais
TDAH não é moda. É um transtorno real, sério, que exige preparo e responsabilidade.
Infelizmente, muita gente está recebendo diagnósticos errados, rótulos precipitados ou tratamentos incompletos porque confiaram em profissionais sem experiência real no assunto.
O que está em jogo é a vida de uma pessoa. A autoestima de uma criança, o desempenho de um adolescente, o equilíbrio emocional de um adulto. Por isso, escolher o profissional certo faz toda a diferença.
Quem tem experiência com TDAH não se apressa. Ele escuta com atenção, avalia com critério e acompanha com compromisso.
Não se contente com o mínimo. Um bom profissional:
- Sabe o que está fazendo.
- Não julga o comportamento.
- Conhece o sofrimento por trás da distração ou da agitação.
- Trabalha com ciência e humanidade.
Não caia em atalhos. Diagnóstico não é adivinhação. Tratamento não é receita de bolo. E cuidar da mente não é um favor, é um direito.
Se você ou alguém da sua família vive com sintomas de TDAH, procure quem entende de verdade. Use as perguntas que você aprendeu aqui. Observe as respostas com atenção. E, se perceber que o profissional não está preparado, dê um passo atrás e busque outro.
Experiência não se improvisa. Competência se constrói. E você merece ser cuidado por quem sabe o que está fazendo.
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