Adultos com TDAH, especialmente do tipo desatento, esquecem tarefas e compromissos porque o cérebro deles funciona de um jeito diferente.
Eles têm dificuldades reais com coisas como memória de curto prazo, atenção sustentada, controle do foco e percepção do tempo. Ou seja: é um modo de funcionamento cerebral que atrapalha a rotina mesmo quando há boa intenção.
Anos de escuta clínica me mostraram que muitos pacientes se culpam por esquecimentos que, na verdade, têm causa neurobiológica. E quando entendem isso, conseguem deixar a culpa de lado e buscar soluções mais realistas.
Ao ler este artigo até o fim, você vai:
- Entender as causas reais por trás dos esquecimentos frequentes;
- Descobrir que não está sozinho e que isso tem nome e explicação;
- Aprender com exemplos práticos e linguagem simples;
- Receber dicas e orientações embasadas para lidar melhor com o dia a dia.
1. Déficits na memória de trabalho
A memória de trabalho é prejudicada no TDAH, dificultando a retenção de informações por tempo suficiente para agir sobre elas
É como tentar carregar água com uma peneira. A pessoa até ouve, entende, promete… mas cinco minutos depois, pluft! A informação escorre do cérebro como se nunca tivesse passado por ali.
Isso acontece porque o cérebro de quem tem TDAH tem dificuldade de manter ativa a informação por tempo suficiente. Mesmo que o sujeito queira muito lembrar, o sistema que segura essa lembrança por um tempinho está com defeito.
A gente chama isso de déficit na memória de trabalho. Não é preguiça, nem má vontade, mas o cérebro que realmente solta a informação antes da hora.
Imagine tentar lembrar de onde deixou as chaves enquanto o rádio tá gritando, o celular vibrando e o cachorro latindo. É complicado, né?
- A memória de trabalho é como a bancada da pia: se estiver cheia de louça, não tem espaço pra preparar o jantar.
- Quem tem TDAH esquece o que ia dizer no meio da frase. Já viu isso?
- Alguns adultos dizem que “ouvem, mas não registram“. É real.
- Lembrar o que comprar no mercado sem lista? Só com superpoder.
Experiências de consultório mostram que muitos adultos relatam situações cotidianas de “apagão”, onde promessas, tarefas ou até datas importantes simplesmente evaporam.
E não estamos falando de uma ou outra vez, mas de um padrão que se repete, trazendo prejuízos na vida amorosa, no trabalho e nas amizades.
2. Falta de monitoramento interno
O TDAH afeta a capacidade de autogerenciar o comportamento em função de metas futuras. Isso inclui o esquecimento de eventos sociais ou compromissos profissionais.
Esse vigia, quando funciona bem, fica cutucando: “Ei, lembra do que você disse que ia fazer?” Mas no TDAH, ele tira folga.
Essa vigia mental é o que a psicologia chama de monitoramento interno. É como ter um gerente dentro do cérebro, controlando o que entra, o que sai e o que precisa ser feito.
Quem tem TDAH desatento sofre porque esse gerente vive distraído, fora da sala ou dormindo em serviço.
O resultado? As coisas passam batido. Você diz “pode deixar que eu ligo mais tarde“, e sinceramente acha que vai lembrar. Mas depois… silêncio total. E o pior: nem se lembra que esqueceu.
Em alta entre os leitores:
Situação cotidiana | Efeito da falta de monitoramento |
---|---|
Prometer ligar para alguém | Simplesmente não lembra mais |
Deixar roupa na máquina de lavar | Só lembra dois dias depois |
Combinar de buscar algo no mercado | Só se toca quando alguém reclama |
Planejar ir a um encontro romântico | Esquece completamente |
Muitos pacientes em acompanhamento relatam que eles realmente acreditam que vão lembrar. Mas como não há um revisor mental ativo, aquilo se perde no meio do caminho.
É como escrever algo importante num papel que depois voa pela janela.
3. Dificuldade em iniciar e manter tarefas
Embora a intenção esteja presente, a dificuldade de iniciar tarefas é um traço central do TDAH desatento.
Ou seja, a pessoa sabe o que tem que fazer, quer fazer, mas simplesmente não consegue começar. E, se começa, manter o foco até o final é outro sufoco.
Isso acontece porque o TDAH bagunça o sistema de ativação do cérebro. O córtex pré-frontal, que deveria ligar o modo ação, não responde como deveria.
É como se o botão de ir em frente estivesse com defeito. O esforço que uma pessoa com TDAH faz para dar o primeiro passo é imenso, só que invisível.
A motivação está ali, mas não há o impulso automático. O resultado é o famoso: “eu sei que preciso, mas não consigo“.
Lista de situações típicas:
- A pia tá cheia de louça… mas a pessoa só consegue olhar.
- O relatório é pra hoje… mas abrir o arquivo parece escalar uma montanha.
- O encontro tá marcado… mas levantar do sofá é uma missão impossível.
- A conta venceu… mas abrir o app do banco trava o cérebro.
A neuropsicologia explica isso como um problema no sistema de ativação comportamental, onde a dificuldade não é querer fazer, mas transformar esse querer em movimento. É um buraco entre intenção e ação.
4. Supressão deficiente de distrações
A atenção de pessoas com TDAH é facilmente desviada por estímulos irrelevantes, o que prejudica o foco em tarefas previamente estabelecidas.
Ao invés de ignorar o barulho do vizinho, o celular vibrando ou o gato espirrando, eles prestam atenção em tudo. Essa dificuldade de desligar o som de fundo chama-se supressão deficiente de distrações.
No cérebro típico, existe um sistema que filtra o que importa e silencia o resto. Em quem tem TDAH, esse filtro está furado. Isso significa que qualquer estímulo interrompe uma tarefa importante.
A mente salta de um foco para outro como um canal de TV sem controle remoto. Resultado? A pessoa começa mil coisas e termina quase nenhuma. E nem percebe que tá fazendo isso.
Estímulo que distrai | Consequência na tarefa |
---|---|
Notificação no celular | Interrompe a leitura do e-mail |
Barulho de alguém falando | Perde o raciocínio no meio da frase |
Lembrança aleatória | Vai procurar algo e esquece o que era |
Movimento no ambiente | Desvia o olhar e perde o foco do texto |
No consultório, é clássico ouvir: “Comecei a limpar a cozinha, mas fui guardar o pano, aí vi que o armário tava bagunçado, e quando percebi tava tentando trocar a lâmpada do banheiro“.
A cabeça pula de galho em galho sem controle. Isso não é invenção: é falha no sistema que regula o foco.
5. Distorções na percepção do tempo
Pessoas com TDAH frequentemente têm uma noção alterada de tempo, o que compromete o planejamento.
Eles sabem que existe o tempo, claro que sabem, mas a sensação é que ele passa de forma diferente. Quando percebem, já se foi! Isso tem nome bonito: distorção na percepção temporal.
O cérebro de quem tem TDAH costuma viver no agora. Tudo que não está acontecendo neste exato momento parece longe, irreal.
Isso torna difícil planejar. Um encontro marcado para às 19h parece “muito distante”, até que, de repente, são 19h10. E pior: a pessoa não percebe o tempo passar nem enquanto está distraída.
Quando vê, o dia acabou. Isso causa muita culpa e frustração, tanto na pessoa quanto nos que convivem com ela.
Você sabia?
- Pessoas com TDAH chamam isso de cegueira temporal.
- Muitos só percebem o atraso quando recebem mensagem: “Você vem?“
- O tempo passa mais rápido quando estão em algo interessante… e mais devagar em tarefas chatas.
- Estimativas simples como “isso leva 5 minutos” quase sempre estão erradas. Geralmente pra menos.
Esses relatos não são exageros: são falhas reais no cérebro, principalmente no sistema dopaminérgico, que ajuda a calcular e antecipar o tempo.
Perguntas frequentes
- Esquecer compromissos é normal ou sinal de TDAH?
É normal esquecer às vezes. Mas quando isso acontece com frequência, causa prejuízos e está acompanhado de outros sintomas (como desatenção e desorganização), pode sim ser sinal de TDAH. - Quem tem TDAH desatento esquece mais que os outros?
Sim. O tipo desatento afeta especialmente a memória de trabalho, que é essencial para lembrar de tarefas, compromissos e o que foi combinado. - É preguiça ou má vontade quando a pessoa esquece?
Não. Isso é um mito. O esquecimento no TDAH vem de dificuldades reais no funcionamento do cérebro, e não de falta de interesse ou esforço. - Por que a pessoa começa algo e logo se distrai?
Porque o cérebro dela tem dificuldade em filtrar estímulos. Qualquer coisa pode roubar o foco, mesmo que ela esteja motivada. - O TDAH afeta a percepção do tempo?
Sim! Pessoas com TDAH têm o que chamamos de “cegueira temporal” — ou seja, o tempo passa e elas não percebem. Isso leva a atrasos e esquecimentos. - É verdade que quem tem TDAH lembra de algumas coisas e esquece de outras?
Sim. Se algo é muito interessante ou novo, a atenção é capturada. Mas tarefas repetitivas ou neutras tendem a ser esquecidas com facilidade. - Alarmes e listas ajudam essas pessoas?
Podem ajudar bastante — mas não resolvem tudo. É comum a pessoa ignorar o alarme ou esquecer de checar a lista. - Por que a pessoa promete e não cumpre?
Muitas vezes ela realmente quis cumprir, mas esqueceu, se distraiu ou subestimou o tempo necessário. Não é mentira: é falha no sistema executivo do cérebro. - O esquecimento no TDAH acontece até com eventos importantes?
Sim. Mesmo encontros, consultas e datas marcantes podem ser esquecidos, se a pessoa não tiver suporte externo (agenda, lembretes, etc.). - É possível melhorar a memória com treino ou terapia?
Sim! Existem técnicas de organização, rotinas visuais, estratégias de automonitoramento e intervenções comportamentais que ajudam bastante. - O TDAH some na vida adulta?
Não. Os sintomas mudam, mas costumam persistir. A desatenção, em especial, segue afetando a vida adulta, principalmente no trabalho e nos relacionamentos. - Quem tem TDAH se sente culpado por esquecer?
Muitas vezes, sim. A pessoa percebe que falhou, mas não sabe como evitar. Isso pode afetar a autoestima e gerar ansiedade ou depressão. - Medicamentos ajudam com os esquecimentos?
Sim. Estimulantes e não estimulantes podem melhorar atenção e memória de trabalho, mas precisam ser receitados por um profissional. - É comum parceiros se frustrarem com isso?
Muito comum. Esquecimentos repetidos podem afetar a confiança e a convivência. Por isso, é importante o casal conversar e buscar estratégias juntos. - Existe alguma dica rápida pra quem vive esquecendo?
Sim: use lembretes visuais, anote tudo no mesmo lugar (nada de post-its espalhados), e transforme o que é importante em rotina. Mas o ideal é buscar apoio profissional para criar um plano mais personalizado.
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