O drama de amar um borderline

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Amar um borderline não é fácil. As oscilações de humor desestabilizam o parceiro. Porém, cuidados podem ser tomados para um romance saudável.

O drama de amar um borderline

Relacionamentos amorosos são complexos por natureza, mas quando envolvem um parceiro com Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), a intensidade se transforma em uma verdadeira montanha-russa emocional.

Amar alguém com TPB é uma experiência avassaladora, pois há uma combinação de paixão intensa, instabilidade emocional e crises recorrentes. A pessoa borderline ama de verdade, mas seus sentimentos são voláteis, tornando a relação imprevisível.

O que faz com que namorar um borderline seja um desafio é a alternância entre extremos: em um momento, a pessoa idealiza seu parceiro, colocando-o em um pedestal, e logo depois, desvalorizá-lo completamente.

Isso cria ciclos viciosos de conflitos constantes e reconciliações dramáticas, onde a fronteira entre o amor e a dor se torna tênue. Esse padrão de comportamento não é manipulação intencional, mas sim uma característica central do transtorno.

Se você está considerando um relacionamento com alguém diagnosticado com TPB, é essencial compreender os desafios emocionais que virão. Será que é possível construir um relacionamento saudável? Como evitar ser sugado por ciclos destrutivos? Existe uma forma de ajudar sem se perder no processo?


O amor intenso e caótico no transtorno borderline

Amar uma pessoa borderline significa entrar em um relacionamento intenso, onde emoções extremas dominam a dinâmica. O TPB é caracterizado por uma instabilidade emocional marcante, o que significa que, para o parceiro, nunca há certezas sobre o que vem a seguir.

     

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Isso ocorre porque as emoções da pessoa com TPB mudam rapidamente, afetando diretamente suas percepções sobre o relacionamento.

De acordo com a Teoria do Apego, muitos indivíduos com TPB possuem um estilo de apego desorganizado, que oscila entre uma busca desesperada por proximidade e um medo irracional de abandono.

Dessa forma, um borderline é capaz de amar, mas o faz de uma maneira intensa e, muitas vezes, destrutiva. Isso significa que mesmo quando o borderline se apaixona fácil, essa paixão será marcada por crises emocionais frequentes.

Um exemplo clássico desse comportamento ocorre quando o parceiro de um borderline se atrasa para um encontro. O que é uma pequena frustração para qualquer outra pessoa será interpretado pelo borderline como uma rejeição devastadora.

Isso desencadeia reações extremas, como acusações impulsivas, choro descontrolado ou até mesmo afastamento abrupto. Mas será que essa instabilidade emocional significa que a pessoa com TPB não pode ter um relacionamento saudável?


Idealização e desvalorização: a montanha-russa emocional

Uma das características mais marcantes do TPB em relacionamentos é o fenômeno da idealização e desvalorização. Em um primeiro momento, o parceiro é visto como perfeito – a solução para todos os problemas emocionais do borderline. Porém, ao menor sinal de frustração, essa percepção se inverte drasticamente, transformando o mesmo parceiro no vilão da relação.

Isso acontece porque as pessoas com TPB possuem dificuldades de comunicação e enxergam o mundo em extremos, sem meio-termo. Pequenas falhas do parceiro são amplificadas e vistas como traições imperdoáveis. Essa oscilação gera uma dinâmica exaustiva, levando o outro a sentir que está sempre pisando em ovos.

Imagine um casal onde um dos parceiros tem TPB. Em um dia, ele envia mensagens apaixonadas dizendo que encontrou o amor da sua vida. No dia seguinte, se sentir que não recebeu atenção suficiente, dirá que o parceiro é insensível e que a relação não vale a pena. Esse ciclo constante de idealização e rejeição desgasta profundamente qualquer relacionamento.


O medo do abandono e a dependência afetiva

O medo do abandono é uma das maiores angústias de quem tem TPB. Essa insegurança constante leva a comportamentos como ciúmes excessivos, crises de desespero e até ameaças de autoagressão quando há o menor sinal de afastamento do parceiro.

O borderline se afasta às vezes, mas não porque deseja terminar – é uma forma de evitar a dor antecipada da rejeição.

A codependência emocional também surge nesse contexto. O parceiro do borderline se sente responsável por sua estabilidade emocional, tentando constantemente acalmar crises e evitando gatilhos que possam causar novas explosões emocionais. No entanto, esse papel é extremamente desgastante e, com o tempo, leva a um relacionamento tóxico.

Uma das formas de evitar que essa dinâmica destrua a relação é estabelecer limites claros. Mas como fazer isso sem provocar uma explosão emocional? O segredo está em manter a comunicação assertiva e consistente, reforçando o carinho sem permitir que o medo do abandono controle a relação.


Manipulação ou desespero?

Muitas pessoas que namoram alguém com TPB relatam momentos em que sentem que estão sendo manipuladas emocionalmente. Mas será que isso é proposital? Ou seria um reflexo do próprio sofrimento intenso do borderline?

Segundo o DSM-5, as pessoas com TPB têm dificuldade em regular suas emoções, o que pode levá-las a recorrer a comportamentos extremos para evitar a dor. Ameaças de término, crises de choro ou até automutilação podem ser formas desesperadas de buscar alívio imediato para o sofrimento emocional.

Imagine um casal onde um dos parceiros decide passar um tempo com os amigos. O borderline pode interpretar essa saída como um abandono e reagir enviando mensagens angustiadas ou dizendo que vai fazer algo extremo.

Essa não é uma manipulação consciente, mas sim um reflexo do medo profundo de ser deixado. A melhor maneira de lidar com essas situações é validar os sentimentos do parceiro sem reforçar comportamentos destrutivos.


É possível ter um relacionamento saudável com um borderline?

Sim, é possível. No entanto, isso exige muita paciência, limites saudáveis e apoio profissional. O TPB não é uma sentença de fracasso amoroso, mas requer um esforço contínuo de ambas as partes. A terapia tem mostrado excelentes resultados no tratamento do TPB, ajudando a pessoa a desenvolver estratégias para controlar suas emoções e melhorar a qualidade dos seus relacionamentos.

Se você está em um relacionamento com alguém que tem TPB, reflita: Você está emocionalmente preparado para lidar com os desafios que virão? Consegue estabelecer limites sem se sentir culpado? Está disposto a buscar ajuda profissional para fortalecer a relação? Se a resposta for sim, então existe esperança.

Lembre-se: um borderline é capaz de amar, mas esse amor precisa ser compreendido e administrado de maneira saudável para que não se torne um fardo emocional.


Referências

  • AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
  • LINEHAN, Marsha. Cognitive-Behavioral Treatment of Borderline Personality Disorder. New York: The Guilford Press, 1993.
  • BOWLBy, John. Apego e Perda. Vol. 1. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

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