Mesmo que façamos um esforço dedicado para praticar honestidade, todos nós mentimos de vez em quando. E também algum paciente mente para o seu Psicólogo.
Você deve se lembrar de uma ou duas mentiras recentes:
- Talvez você tenha já tenha dito à sua avó que você está ótimo, e está indo muito bem, quando na verdade estava se sentindo mal;
- Ou você opinou: “A pizza está excelente!”, quando na verdade queria comida indiana;
E durante as sessões de terapia, quando o paciente mente para o Psicólogo?
Se às vezes você se pega oferecendo uma versão de eventos que não corresponde totalmente à realidade, você não está sozinho: mais 93% das pessoas que estão em terapia mentem para seu Psicólogo.
No entanto, mentir na terapia, por mais comum que seja, pode minar o relacionamento terapêutico e, por fim, atrapalhar o progresso.
Dedicar algum tempo para investigar os motivos da mentira ajuda a evitar futuras desonestidades, além de aumentar as chances de sucesso.
Por que os paciente mentem?
Antes de explorar as muitas razões pelas quais a completa honestidade na terapia pode parecer tão difícil, é útil entender as várias formas que a mentira pode assumir.
O que é considerado mentira?
Os tipos mais comuns de mentira incluem:
- Mentiras absolutas. Histórias que têm muito pouca (se alguma) verdade nelas;
- Segredos ou mentiras de omissão. Talvez o paciente não minta de verdade, mas se convence de que alguns detalhes não importam;
- Minimizando fatos. O paciente menciona pensamentos intrusivos, mas não diz o quanto eles afetam sua vida diária. Ou ele se abre sobre o caso do cônjuge, só não menciona que a traição aconteceu mais de uma vez;
- Meias verdades. O paciente pode dizer que bebe socialmente, o que é verdade. Entretanto, ele evita compartilhar o fato de que também bebe sozinho;
- Exageros. Talvez o paciente enfatize demais alguns detalhes, como a frequência com que o cônjuge chega tarde em casa, ou o número de vezes que o melhor amigo cancelou planos;
- Mentirinha. A maioria das pessoas presume que mentiras inocentes são inofensivas, já que geralmente são motivadas pelo desejo de evitar ferir os sentimentos de alguém. Ao mesmo tempo, eles ocultam fatos que podem ser importantes na terapia;
O paciente mentir para o Psicólogo ocorre por muitos dos motivos, mas principalmente para proteger a si mesmo ou a alguém que ele ama, evitar constrangimento ou críticas, ou deixar uma boa impressão.
Talvez o paciente:
- Sinta vergonha de seus hábitos, emoções, fantasias, relacionamentos ou comportamentos sexuais;
- Não quer que o Psicólogo saiba sobre o uso de substâncias;
- Não sabe se pode confiar para contar suas experiências de trauma ou abuso;
- Não quer explicar o quão graves seus sintomas realmente são;
- Sente medo de compartilhar pensamentos suicidas;
- Mente compulsivamente ou;
- Quer que o Psicólogo goste e o aceite como uma boa pessoa.
Na terapia, o paciente pode se sentir ansioso ou estressado quando precisa revelar detalhes íntimos (e muitas vezes profundamente angustiantes) sobre sua vida pessoal.
Mentir para o Psicólogo, então, oferece um escudo para suas vulnerabilidades.
Fantasias sobre hospitalizações involuntárias
O paciente mente para o Psicólogo para evitar possíveis repercussões no tratamento.
Ele pode:
- Temer que compartilhar pensamentos suicidas leve-o a ser internado ou forçado à ir ao hospital;
- Ter algumas preocupações sobre ser forçado a tomar medicamentos que não quer;
- Estar preocupado se o Psicólogo vai encaminhá-lo para uma reabilitação, por fazer uso de substâncias.
Pode ajudar saber que, na maioria dos casos, o Psicólogo não pode obrigá-lo a fazer nada.
Eles podem encaminhá-lo a um psiquiatra que recomendará medicamentos, mas normalmente o paciente tem a opção de recusar.
Psicólogos também não recomendam a hospitalização por automutilação não suicida ou pensamentos suicidas, quando o paciente não tem planos de agir de acordo com esses pensamentos.
O código de ética do Psicólogo garante ao paciente confidencialidade nas coisas que são compartilhadas na terapia.
Portanto, a menos que o uso de sua substância coloque outra pessoa (como os filhos) em perigo, eles manterão essa informação em segredo.
O paciente também pode omitir coisas sobre as quais não deseja falar, talvez para se concentrar naquilo que considera mais importantes.
Talvez esquivar-se de uma pergunta sobre o relacionamento com os pais não atrapalhe totalmente a terapia, mas pode retardar o progresso.
Pode valer a pena explorar por que o paciente prefere evitar esses tópicos específicos.
Além do mais, mesmo que uma relação tensa com os pais pode não parecer relevante, poderia absolutamente ter algo a ver com as coisas que faz o paciente querer ajuda.
O que fazer para não mentir?
Talvez uma meia verdade tenha escapado durante uma sessão e o paciente optou por não corrigi-la.
Ou ele admitiu para si mesmo que escondeu mais do que algumas informações importantes sobre sua saúde mental e emocional.
As dicas à seguir podem ajudar a avançar de forma produtiva.
Admitir
Pode parecer um pouco assustador, mas é aconselhável revelar que o paciente mente para o Psicólogo.
Ele não deve se preocupar com a raiva do Psicólogo. Não é disso que trata a terapia, e é muito mais provável que o Psicólogo use a revelação como uma oportunidade para explorar um pouco mais fundo as razões para mentir.
O paciente se sente culpado ou envergonhado por alguma coisa? Com medo de julgamento?
Talvez ele simplesmente não está se sentindo confortável em se abrir da maneira que a terapia exige.
Esse conhecimento pode ajudar o Psicólogo a trabalhar com o paciente na busca por soluções úteis.
Avisar quando passar por momentos difíceis
A maioria das pessoas acha a terapia, pelo menos, um pouco desafiadora. Afinal, envolve expor vulnerabilidades e medos.
O paciente pode se sentir tentado a mentir se não quiser que o Psicólogo saiba o quanto ele está lutando.
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Mas uma imagem mais precisa do que o paciente está vivenciando vai ajudá-los a elaborar uma intervenção mais efetiva.
O paciente pode tentar algo como:
- “Estou me sentindo muito mal agora, mas gostaria de falar sobre X hoje.”;
- “Não me sinto pronto para falar sobre isso ainda. Talvez na próxima semana?”;
- “A semana passada foi difícil. Podemos falar sobre algumas novas estratégias de enfrentamento?”;
O Psicólogo pode sugerir explorar por que o paciente tem dificuldade com um tópico específico, em vez de mergulhar no tópico em si.
Isso gera uma percepção mais profunda da aflição e o prepara para lidar com o problema mais tarde.
O Psicólogo não está lá para julgar o paciente
O trabalho do Psicólogo (aquele pelo qual o paciente paga) é ajudá-lo a superar os desafios que está enfrentando.
Ele terá muito mais dificuldade em oferecer esse apoio quando o paciente mente para o Psicólogo, ou seja é menos honesto (ou totalmente desonesto) sobre essas dificuldades.
Digamos que o paciente tenha esquecido de mencionar o momento na noite passada em que perdeu a paciência e gritou com os filhos. Ele não quer que pensem que você é um péssimo pai.
Mas o Psicólogo é humano, assim como você.
Ele provavelmente também já perdeu a paciência uma vez ou outra, com um parceiro, os filhos ou outro ente querido.
Contar ao Psicólogo o que aconteceu pode beneficiar o paciente, demonstrando o quanto está sob estresse.
A partir daí, ele pode começar a explorar as habilidades de enfrentamento e outras estratégias úteis para evitar perder a paciência no futuro.
Nunca desistir
Não importa o quanto o paciente esteja frustrado com o que parece ser uma falta de progresso.
Lembrar o que deseja obter com a terapia vai ajudá-lo a se comprometer com o processo.
Se parece que a terapia não está mais funcionando e o paciente disser ao Psicólogo, “Eu já me sinto muito melhor agora, e não preciso de mais sessões. Obrigado!”, então isso o levará praticamente de volta ao ponto de partida.
Se, em vez disso, o paciente explicar que acredita que a abordagem atual dele não está ajudando muito, então Psicólogo e paciente poderão trabalhar juntos para explorar opções mais eficazes.
Saber quando é hora de seguir em frente
É difícil progredir na terapia sem um bom relacionamento terapêutico, e a confiança é um componente-chave desse relacionamento.
Se o paciente não consegue se abrir com seu Psicólogo, então é porque não se sente seguro ou confortável com ele.
Talvez ele tenha notado alguma mudança sutil no tom ou na linguagem corporal que sugere julgamento ou crítica do Psicólogo.
Ou talvez ele o lembre, apenas um pouco, de alguém de quem não gosta ou desconfia.
Conversar sobre essas preocupações com o Psicólogo pode ajudar, mas é sempre bom pensar na possibilidade de encontrar um novo Psicólogo.
O paciente não conseguirá muito com a terapia se não puder compartilhar suas experiências com sinceridade.
O Psicólogo certo para o paciente é alguém com quem ele pode se comunicar de forma honesta e aberta.
O Psicólogo sabe quando o paciente está mentindo?
Não. Ele não pode ler mentes, então nem sempre saberá com exatidão quando o paciente mente para o Psicólogo.
Mas, muitas pistas na fala e linguagem corporal podem alertá-lo quanto à desonestidade.
O Psicólogo pode notar coisas como detalhes desnecessários ou embelezados, ou mudanças na história de uma sessão para a outra.
Se o paciente fica na defensiva ou nervoso ao responder às perguntas de maneira inverídica, ou redireciona perguntas que prefere não responder, o Psicólogo provavelmente também perceberá.
Talvez as expressões faciais não correspondam às palavras ou tom.
Depois de ser dispensado do emprego, por exemplo, o paciente pode dizer que está animado com a oportunidade de explorar uma nova carreira, entretanto ele não pode dizer isso olhando nos olhos.
Mas a ansiedade e a decepção que realmente sente aparecem em no rosto e na sua voz.
Vale a pena mentir?
A maioria dos pacientes mentem na terapia em algum momento, mas enganar o Psicólogo só vai trazer prejuízo.
Aceitar suas falsidades, por outro lado, pode criar a oportunidade para um progresso real.
O Psicólogo pode apoiar melhor o paciente quando tem uma compreensão mais completa dos desafios que ele está enfrentando, e poderá oferecer esse apoio com compaixão, sem julgamento.
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