O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neurobiológica caracterizada por sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Esses sintomas impactam diversos aspectos da vida – do desempenho escolar ou profissional até os relacionamentos e a autoestima.
Se suspeita que você ou alguém próximo tenha TDAH, é normal sentir-se confuso ou preocupado. A boa notícia é que, com identificação precoce e suporte adequado, é possível manejar o transtorno de forma eficaz e melhorar significativamente a qualidade de vida.
Este artigo vai explicar por que um diagnóstico precoce faz diferença, quem são os profissionais de saúde envolvidos (psiquiatras, neurologistas, psicólogos/psicoterapeutas) e como eles podem ajudar, além de destacar a importância de tratamentos baseados em evidências para garantir as intervenções mais eficazes.
Por que a identificação precoce é tão importante?
TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento que usualmente se manifesta na infância e pode persistir na adolescência e vida adulta. Ele se divide em três grupos principais de sintomas:
- Dificuldade de manter atenção e foco;
- Hiperatividade (agitação motora, inquietude) e;
- Impulsividade (agir ou falar sem pensar)
É importante notar que todo mundo pode apresentar esses comportamentos em algum grau; o diferencial no TDAH é a frequência e intensidade dos sintomas, que causam prejuízos significativos no dia a dia do indivíduo, seja na escola, no trabalho ou nas relações sociais.
Identificar o TDAH o quanto antes faz toda a diferença. Estudos mostram que detecção e intervenção precoces reduzem o impacto de longo prazo. Crianças com TDAH não diagnosticado frequentemente são rotuladas (injustamente) como “desobedientes” ou “irresponsáveis” e sofrem punições ou críticas que apenas agravam a situação.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) adverte que, sem o diagnóstico e apoio adequados, essas crianças têm maior risco de desempenho ruim ou evasão escolar, além de estarem mais sujeitas a acidentes e ferimentos em geral.
Em contrapartida, quando o TDAH é reconhecido cedo e tratado, a criança passa a receber compreensão e auxílio em vez de reprimendas, o que melhora sua autoestima e desenvolvimento. Os benefícios de buscar ajuda precocemente não se restringem à infância.
Adolescentes com TDAH têm maiores índices de dificuldades acadêmicas, abandono escolar, uso de substâncias e acidentes de trânsito quando não tratados adequadamente.
Mesmo para adultos que só descobrem o TDAH mais tarde na vida, obter o diagnóstico traz alívio e acesso a intervenções que melhoram sua organização, foco e gerenciamento do tempo, evitando anos de frustração atribuída erroneamente a falhas pessoais.
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Em suma, reconhecer o TDAH o quanto antes possibilita intervenções imediatas para controlar os sintomas e evita uma série de consequências negativas associadas ao transtorno não tratado.
Profissionais envolvidos no diagnóstico e tratamento do TDAH
Uma dúvida comum de quem suspeita de TDAH é: quem procurar para confirmar o diagnóstico e tratar o transtorno? O diagnóstico geralmente envolve uma equipe multiprofissional, dada sua natureza complexa que abrange aspectos médicos, neurológicos e comportamentais.
Os principais especialistas que atuam no diagnóstico e tratamento do TDAH são:
- O Psiquiatra;
- O Neurologista e;
- O Psicólogo/psicoterapeuta.
Cada um desempenha um papel específico e, muitas vezes, complementar. A seguir, conheça o papel de cada profissional e como eles podem ajudar:
Psiquiatra
O psiquiatra é o médico especializado em saúde mental e um dos profissionais mais capacitados para diagnosticar e tratar o TDAH. Por ter formação em medicina, ele consegue fazer uma avaliação abrangente dos sintomas do paciente, considerando sua história clínica, desenvolvimento e possíveis outras condições associadas.
Durante o processo de diagnóstico, o psiquiatra utiliza critérios estabelecidos por manuais médicos (como o DSM-5, da Associação Americana de Psiquiatria) para identificar os sintomas e avaliar se eles atendem aos padrões do transtorno.
Essa avaliação minuciosa também serve para descartar outras condições médicas ou psiquiátricas que possam se manifestar de forma semelhante, garantindo que o diagnóstico seja preciso e confiável. Uma vez confirmado o diagnóstico, o psiquiatra geralmente se torna o responsável por propor e conduzir o plano de tratamento médico. Ele pode prescrever medicamentos que ajudam a regular a atenção, a hiperatividade e a impulsividade.
Os medicamentos estimulantes (como metilfenidato ou anfetaminas) são considerados tratamento de primeira linha e estudos mostram que cerca de 70–80% dos pacientes pediátricos com TDAH apresentam redução significativa dos sintomas ao usá-los corretamente.
Esses fármacos atuam no sistema nervoso central, melhorando a capacidade de foco e controle dos impulsos. O psiquiatra acompanhará de perto o paciente, ajustando as doses se necessário e monitorando efeitos colaterais para assegurar que o uso da medicação seja seguro e eficaz.
É importante destacar que o tratamento medicamentoso deve ser individualizado e sempre acompanhado por um especialista. Algumas pessoas respondem bem a um tipo de medicamento e não a outro, e somente um médico pode fazer o manejo adequado dessas medicações.
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Em resumo, o psiquiatra fornece o embasamento médico do tratamento do TDAH, unindo diagnóstico preciso e intervenções farmacológicas baseadas em evidências para controlar os sintomas e melhorar o funcionamento diário do paciente.
Neurologista
O neurologista é o médico especializado no sistema nervoso. Embora o TDAH seja formalmente classificado como um transtorno psiquiátrico, há casos em que o neurologista também está envolvido no diagnóstico e tratamento – especialmente em situações que requerem um diagnóstico diferencial neurológico.
Isso significa que, se houver suspeita de que sintomas de desatenção ou impulsividade estejam relacionados a alguma condição neurológica, como epilepsia ou efeitos de traumatismo craniano, o neurologista será a pessoa mais indicada para investigar.
Durante uma consulta, ele realiza um exame neurológico completo, avaliando reflexos, coordenação motora, equilíbrio e outras funções do sistema nervoso. Em alguns casos, ele solicitará exames complementares, como um eletroencefalograma (EEG) ou uma ressonância magnética cerebral
Essa abordagem é importante para descartar outras condições neurológicas que tenham manifestações parecidas com o TDAH (por exemplo, distúrbios de sono, convulsões ou mesmo problemas auditivos/visuais que possam prejudicar a concentração).
Felizmente, na maioria dos casos de TDAH típico, esses exames não mostram anormalidades estruturais ou epileptiformes – o que reforça que se trata mesmo de um transtorno funcional/psiquiátrico.
Outra área em que o neurologista pode contribuir é na avaliação neuropsicológica e cognitiva. Alguns deles trabalham em conjunto com neuropsicólogos para aplicar testes que mapeiam as funções cognitivas (atenção sustentada, memória de trabalho, funções executivas).
Assim, o neurologista (geralmente um neuropediatra no caso de crianças, ou um neurologista especializado em infância e adolescência) desempenha um papel valioso em garantir que não estamos lidando com “outra coisa disfarçada de TDAH” e em traçar um perfil mais completo do funcionamento neurológico e cognitivo do indivíduo.
Em termos de tratamento, alguns neurologistas também se sentem habilitados a acompanhar pacientes com TDAH, especialmente no contexto pediátrico. De fato, tanto neurologistas quanto psiquiatras podem diagnosticar e prescrever medicação para TDAH, contanto que tenham experiência na área.
Em muitos serviços de saúde, a decisão de procurar um ou outro depende da disponibilidade local ou da preferência do paciente/família. O importante é buscar um especialista familiarizado com TDAH.
Assim, se você optar por um neurologista, verifique se ele possui experiência em transtornos de atenção; da mesma forma, um psiquiatra especializado em infância/adolescência ou em transtornos do neurodesenvolvimento será o ideal. Em várias situações, o neurologista e o psiquiatra trabalham em conjunto – o neurologista garantindo que o quadro neurológico geral está em ordem e o psiquiatra focando no manejo específico do transtorno.
Psicólogo/Psicoterapeuta
O psicoterapeuta é o profissional de saúde mental não-médico, especializado em avaliar e tratar aspectos comportamentais, emocionais e cognitivos. No contexto do TDAH, o psicoterapeuta desempenha dois papéis principais:
- Avaliação diagnóstica e;
- Intervenção psicoterapêutica.
Na fase de avaliação, ele realiza uma avaliação psicológica ou neuropsicológica aprofundada – muitas vezes compondo a equipe multidisciplinar de diagnóstico do TDAH. Essa avaliação inclui entrevistas clínicas detalhadas (com o paciente e frequentemente com familiares ou professores, no caso de crianças), aplicação de testes padronizados e questionários de classificação de sintomas, e observação comportamental em diferentes contextos.
Por meio desses instrumentos, o psicoterapeuta consegue mapear com mais precisão a presença e a intensidade dos sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, além de identificar padrões cognitivos característicos (por exemplo, dificuldades nas funções executivas, como planejamento e organização).
Essa abordagem abrangente permite compreender como o TDAH afeta a vida do indivíduo – suas forças e desafios específicos – e também detectar possíveis comorbidades.
Muitas vezes, o psicoterapeuta identifica sinais de outros transtornos que necessitam de atenção, como ansiedade, depressão ou dificuldades de aprendizagem, que são relativamente comuns em pessoas com TDAH.
Os resultados dessa avaliação complementam a avaliação médica, contribuindo para um diagnóstico mais acurado e um planejamento de tratamento personalizado. Além do diagnóstico, o psicólogo/psicoterapeuta atua diretamente no tratamento do TDAH por meio da psicoterapia.
Dentre as abordagens de psicoterapia, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) destaca-se como uma das mais utilizadas e com maior respaldo científico para TDAH.
A TCC é uma terapia estruturada, de natureza breve e focada em soluções, que ajuda o indivíduo a identificar padrões de pensamento e comportamento que contribuem para suas dificuldades, e a desenvolver estratégias práticas para modificá-los.
Por exemplo, no caso do TDAH, a TCC ensina técnicas de organização do tempo e do espaço, métodos para melhorar a atenção e reduzir distrações, e formas de manejar a impulsividade (como exercícios de “pausa e reflexão” antes de agir). Há evidências sólidas de que a TCC adaptada para o TDAH traz benefícios reais. A psicoterapia baseada em evidências potencializa os efeitos do tratamento médico e traz ganhos que perduram após o término das sessões.
No caso de crianças, o trabalho envolve também os pais e a escola. Intervenções comportamentais, como o treinamento de pais em manejo do comportamento, estão entre os tratamentos não medicamentosos mais eficazes para crianças pequenas.
Nesse modelo, os pais aprendem técnicas para estabelecer rotina, reforçar positivamente comportamentos desejados e impor consequências consistentes para comportamentos problemáticos, de forma a ajudar a criança a desenvolver autocontrole e hábitos mais saudáveis. As evidências mostram que, em pré-escolares com TDAH, essa orientação aos pais pode funcionar tão bem quanto a medicação.
Por fim, o psicoterapeuta oferece suporte emocional tanto ao paciente quanto à família. Conviver com o TDAH gera estresse, afeta a autoestima e, às vezes, leva a conflitos familiares. Ter um espaço psicoterapêutico acolhedor para discutir essas dificuldades, aprender sobre o transtorno e desenvolver habilidades socioemocionais faz parte do processo de tratamento.
A Psicoterapia Baseada em Evidências (PBE) garante que as técnicas utilizadas pelo terapeuta têm comprovação científica de eficácia, o que aumenta as chances de sucesso da intervenção. Portanto, procurar um psicoterapeuta que utilize abordagens comprovadamente eficazes (como TCC, intervenção comportamental, treino de habilidades sociais, entre outras) é fundamental.
Abordagens sem respaldo científico podem desperdiçar tempo e recursos – por exemplo, apenas “conversar” sem direcionamento específico ou terapias miraculosas não validadas dificilmente trarão benefício concreto. Assim, o psicólogo/psicoterapeuta, munido de técnicas baseadas em evidências, ajuda a desenvolver mecanismos para lidar com seus desafios, promovendo mudanças positivas em seu comportamento e qualidade de vida.
Resumo
Profissional | Formação | Principais atribuições no TDAH | Exemplos de ações |
---|---|---|---|
Psiquiatra | Medicina + residência em Psiquiatria | Diagnóstico, prescrição e ajuste de medicamentos; manejo de comorbidades | Prescrever metilfenidato; tratar ansiedade associada |
Neurologista/Neuropediatra | Medicina + residência em Neurologia | Diagnóstico diferencial neurológico; exames complementares | Solicitar EEG para descartar ausências epiléticas |
Psicólogo/Psicoterapeuta | Graduação em Psicologia + formação clínica | Avaliação psicológica; psicoterapia baseada em evidências | Aplicar TCC; treinar pais e professores |
Escolhendo o especialista certo
Diante de tantos profissionais possíveis, pode surgir a dúvida: qual procurar primeiro? A resposta depende de vários fatores, como
- A idade da pessoa;
- A disponibilidade de especialistas na sua região e;
- A natureza dos sintomas.
Em crianças, um bom ponto de partida é consultar o pediatra ou médico da família. Esses profissionais farão uma avaliação inicial dos sintomas, descartarão problemas clínicos gerais que afetem o comportamento (por exemplo, distúrbios de sono, problemas de visão ou audição, deficiência de vitaminas etc.) e então encaminharão para um especialista mais adequado.
Em adolescentes e adultos, pode-se procurar diretamente um psiquiatra (especializado em infância/adolescência ou em adultos, conforme o caso) para a avaliação diagnóstica. Alternativamente, iniciar com uma avaliação psicológica também é válido – um psicólogo aplicará testes e levantará evidências de TDAH e, se confirmado, encaminhará para um psiquiatra prescrever a medicação.
O importante é buscar profissionais com experiência em TDAH. Não hesite em perguntar se o médico ou psicoterapeuta já tratou outros casos de TDAH, pois a familiaridade com o transtorno ajuda a evitar diagnósticos incorretos e atrasos no tratamento.
Aqui, novamente, a Psicoterapia Baseada em Evidências (PBE) e a Medicina Baseada em Evidências entram como alicerces para guiar as escolhas: privilegiar aquilo que estudos de qualidade demonstraram funcionar melhor. Felizmente, hoje já se sabe que medicação não vicia e não “aliena” a pessoa – ao contrário, quando bem indicada, ela habilita o indivíduo a ter controle sobre seus comportamentos e desenvolver todo seu potencial, seja acadêmico ou profissional.
Com um diagnóstico em mãos, família e paciente podem dar nome ao que antes era apenas frustração e, assim, buscar estratégias objetivas para superar as dificuldades. A integração dos saberes da medicina (psiquiatra/neurologista) e da psicoterapia (psicoterapeuta), aliada ao apoio de outros contextos (escola, trabalho, grupos de apoio), cria uma rede de segurança que permite ao portador de TDAH florescer em seus pontos fortes e contornar suas áreas de fraqueza.
Intervenções eficazes e psicoterapia baseada em evidências (PBE)
Uma vez diagnosticado o TDAH, quais são as intervenções mais eficazes? Como saber se estamos no caminho certo do ponto de vista científico? Aqui entra o conceito de Psicoterapia Baseada em Evidências (PBE) e, de forma geral, tratamento baseado em evidências.
Significa que as decisões sobre o tratamento são fundamentadas nas melhores evidências de pesquisa disponíveis, aliadas à experiência clínica do profissional e aos valores/preferências do paciente. Em outras palavras, usar o que comprovadamente funciona para ajudar pessoas com TDAH.
As melhores evidências apontam para uma combinação de abordagens. No topo da lista de tratamentos com eficácia comprovada estão os medicamentos estimulantes, que já mencione – amplamente pesquisados desde a década de 1990, com múltiplos estudos atestando sua capacidade de reduzir os sintomas centrais do TDAH (desatenção, hiperatividade, impulsividade) em crianças, adolescentes e adultos.
Contudo, a medicação sozinha não resolve todos os aspectos da vida do indivíduo. É aí que entram as intervenções psicossociais, especialmente as de cunho comportamental e cognitivo-comportamental.
Pesquisas de larga escala, incluindo meta-análises (estudos que compilam resultados de vários estudos), indicam que terapias comportamentais – como treino de pais, manejo de sala de aula, treinamento de habilidades sociais – têm impacto positivo moderado a alto nos sintomas e, principalmente, nos comportamentos práticos do dia a dia e no desempenho funcional de crianças com TDAH.
Em adolescentes e adultos, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) adaptada para TDAH possui eficácia comprovada no auxílio ao manejo do transtorno. Por exemplo, adultos com TDAH que passam por um programa de TCC relatam redução de sintomas, menor procrastinação e melhora na organização pessoal.
Um diferencial notável das intervenções psicoterapêuticas é que seus efeitos tendem a persistir após o término do tratamento – habilidades aprendidas continuam sendo aplicadas pela pessoa, gerando benefícios mantidos ao longo do tempo.
Em contraste, os sintomas do TDAH geralmente retornam se a medicação é suspensa; por isso a combinação de psicoterapia + medicação ajuda não só a melhorar o quadro atual, mas também a fornecer ferramentas para o futuro. A PBE nos orienta a usar protocolos de tratamento bem estabelecidos.
Para crianças, além do já citado treinamento parental, há programas de intervenção nas escolas baseados em evidências (por exemplo, técnicas de “token economy”, onde a criança ganha pontos ou estrelas por bom comportamento que depois são trocados por recompensas, têm suporte empírico).
Para adolescentes, intervenções que envolvem coaching em organização, psicoterapia de solução de problemas e psicoeducação mostram bons resultados. Para adultos, há manuais de TCC específicos para TDAH (incluindo componentes de mindfulness, estratégias de planejamento, etc.) testados em estudos controlados.
Faixa etária | Primeira linha de tratamento | Evidência (nível) | Alternativas/Complementos |
---|---|---|---|
Pré-escolar (3–5 anos) | Treinamento de pais em manejo comportamental | A (diretriz AAP 2019) | Ajustes na pré-escola; acompanhamento pediátrico |
Escolar (6–12 anos) | Medicação estimulante + intervenção comportamental | A (metanálise Cortése 2018) | TCC infantil; reforço na sala de aula |
Adolescentes (13–17 anos) | Medicação estimulante + TCC ou coaching | A (Wolraich 2019) | Terapia de habilidades sociais; apoio escolar |
Adultos (≥18 anos) | Medicação estimulante ou não-estimulante + TCC estruturada | A (Liu 2023) | Mindfulness adaptado; coaching executivo |
Além disso, educar o paciente e a família sobre o transtorno – a chamada psicoeducação – é considerada parte fundamental de um tratamento baseado em evidências, pois melhora a adesão e reduz crenças equivocadas sobre o TDAH. Em contrapartida, a aplicação de intervenções sem comprovação científica não é recomendada, pois desperdiçam tempo valioso e até desmotivam o paciente.
Por exemplo, terapias puramente psicológicas não-diretivas (sem foco comportamental ou cognitivo) não têm eficácia estabelecida no TDAH. Da mesma forma, abordagens alternativas como certas dietas ou suplementos somente devem ser consideradas se houver evidência científica clara de benefício – até o momento, nenhuma dieta “cura” o TDAH, embora hábitos saudáveis como boa alimentação, exercício físico e sono adequado certamente ajudem no bem-estar geral.
Em suma, um tratamento eficaz do TDAH não se baseia em achismo, mas sim na conjugação de ciência e personalização. Ciência, para sabermos o que geralmente funciona melhor; personalização, para ajustar essas recomendações gerais à situação específica do indivíduo. Essa fórmula tem proporcionado a muitas pessoas com TDAH melhora significativa em atenção, desempenho acadêmico/profissional e relacionamento interpessoal.
Tratamento | Objetivo central | Benefícios principais | Limitações |
---|---|---|---|
Estimulantes (metilfenidato, lisdexanfetamina) | Reduzir desatenção, hiperatividade, impulsividade | Efeito rápido; alto índice de resposta (70–80 %) | Pode causar perda de apetite, insônia; exige acompanhamento médico |
Não-estimulantes (atomoxetina, guanfacina) | Reduzir sintomas quando há contraindicação a estimulantes | Menor risco de abuso; útil em comorbidades de tique | Início de ação mais lento; possíveis efeitos GI |
TCC específica para TDAH | Ensinar estratégias de organização, autorregulação | Melhora funcionalidade; efeitos mantidos pós-terapia | Requer motivação e prática; nem sempre disponível |
Treinamento parental/manejo escolar | Diminuir comportamentos disruptivos; criar rotinas | Melhora ambiente familiar/escolar; fortalece vínculos | Depende de adesão dos adultos; resultados graduais |
Palavras finais
Conviver com a suspeita ou o diagnóstico de TDAH é desafiador, mas com informação de qualidade e apoio profissional adequado, é perfeitamente possível levar uma vida plena e produtiva com o transtorno.
Não espere para agir: Marque uma avaliação com um profissional de saúde mental. Pode ser um psiquiatra (para uma investigação médica) ou um psicoterapeuta (para uma avaliação inicial) – o importante é começar. Leve consigo anotações de sintomas observados, exemplos de comportamentos que preocupam e perguntas que você tenha.
Quanto mais informações, melhor o profissional poderá compreender o caso.
Escolha um especialista experiente em TDAH: Ao agendar a consulta, você deve perguntar se o profissional tem experiência com TDAH. Um especialista atualizado saberá aplicar os critérios diagnósticos corretos e propor as melhores práticas de tratamento.
Lembre-se de que, segundo diretrizes médicas, o diagnóstico deve ser feito por profissionais qualificados (como psiquiatras, pediatras ou neurologistas).
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