Um diagnóstico sério de TDAH exige mais do que opinião

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Um diagnóstico sério de TDAH exige muito mais que opinião: precisa de evidências científicas, avaliação clínica rigorosa e impacto real na vida da pessoa.

Um diagnóstico sério de TDAH exige mais do que opinião

Sim, pode acreditar: um diagnóstico sério de TDAH precisa muito mais do que o “achômetro” de alguém, por mais experiente que a pessoa seja.

Não basta olhar para a criança que não para quieta ou para o adulto que vive esquecendo compromissos e já concluir: “é TDAH!“.

Isso é perigoso. O diagnóstico desse transtorno exige:

  • Avaliação criteriosa;
  • Presença de sintomas em diferentes lugares;
  • Sofrimento real;
  • Exclusão de outros problemas e;
  • Uso de métodos confiáveis.

É o que a ciência recomenda, e o que a boa prática exige. A gente não trata saúde mental no chute.

Mas se o risco de diagnóstico errado é tão alto, o que dá pra fazer? A resposta é simples (mas trabalhosa): informação de qualidade, profissionais qualificados e um olhar cuidadoso para cada caso.

Agora, se você decidir ler este artigo até o final, vai sair com:

  • Clareza sobre como um diagnóstico confiável de TDAH é feito;
  • Segurança pra identificar exageros e equívocos comuns;
  • Ferramentas pra buscar ajuda responsável e evitar rótulos precipitados;
  • Conhecimento acessível, direto e sem enrolação, pra você usar na prática. Seja como pai, educador, paciente ou profissional.

1. É necessário comprovar a presença de sintomas em múltiplos contextos

Tanto o DSM-5 quanto a CID-11 estabelecem que os sintomas de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade devem estar presentes em dois ou mais ambientes, como casa, escola ou trabalho.

Mas por que isso é importante? Porque todo mundo tem dias difíceis ou momentos de distração, especialmente em ambientes específicos.

Por isso, a exigência de múltiplos contextos ajuda a evitar erros e exageros na hora de diagnosticar.

Onde os sintomas podem aparecer?Exemplos práticos
EscolaA criança não consegue prestar atenção
CasaVive esquecendo as tarefas do dia a dia
TrabalhoO adulto se atrapalha com prazos
Lazer/socialAgitação e impulsividade em festas

Se o diagnóstico for baseado só em um ambiente, corre-se o risco de confundir um problema de convivência ou de adaptação com um transtorno mental.


2. O diagnóstico exige evidências de prejuízo funcional clínico significativo

Não basta apresentar traços de inquietação ou distração: os manuais exigem comprometimento funcional real e mensurável.

Segundo o DSM-5, esses prejuízos devem interferir diretamente no desempenho acadêmico, ocupacional ou social do indivíduo.

Já na CID-11, o critério é que os sintomas sejam “persistentes, desproporcionais ao nível de desenvolvimento e causadores de comprometimento significativo na vida da pessoa”.

Ou seja, o diagnóstico só vale quando os comportamentos realmente comprometem o dia a dia, e não quando são apenas incômodos ou diferentes.

Veja a diferença:

ComportamentoTDAH?
Fala demaisSim, se isso atrapalha as relações
Esquece tarefasSim, se compromete o desempenho
Não para quietoSim, se impede concentração e foco
Se distrai com facilidadeSim, se perde oportunidades por isso

Isso é o que diferencia o TDAH de uma fase ruim, uma má adaptação ou uma personalidade mais “espoleta”.


3. A avaliação deve ser multimodal e incluir diferentes fontes de informação

A prática baseada em evidências preconiza o uso de entrevistas clínicas estruturadas, questionários validados, observações comportamentais e relatórios de terceiros (como professores ou familiares).

Essa abordagem minimiza vieses subjetivos e fortalece a validade do diagnóstico.

Esse cuidado é essencial porque o TDAH se expressa de forma diferente em contextos distintos e pode ser confundido com outros problemas.

Por exemplo, a desatenção é causada por depressão, ansiedade ou até por noites mal dormidas. Já a agitação tem a ver com fatores ambientais, como estresse familiar ou bullying.

É por isso que profissionais responsáveis usam uma abordagem completa, onde a opinião do paciente é só uma parte da história. A prática baseada em evidências recomenda o uso de instrumentos validados: como o SNAP-IV, o ASRS ou o Conners, além de escutas clínicas cuidadosas.

Lista de fontes que devem ser consultadas na avaliação de TDAH:

  1. Entrevistas clínicas estruturadas (com o paciente e cuidadores)
  2. Questionários validados (como ASRS ou SNAP-IV)
  3. Relatos escolares ou profissionais
  4. Observações clínicas ao longo do tempo

A maioria dos diagnósticos errados de TDAH ocorre quando só se escuta um lado da história. Geralmente o da mãe ou da própria pessoa.


4. É indispensável excluir outras condições com sintomas semelhantes

TDAH compartilha sintomas com outros transtornos, como ansiedade, depressão e transtornos do sono.

O DSM-5 orienta que o diagnóstico de TDAH não deve ser feito na presença de explicações alternativas mais plausíveis. Por isso, uma avaliação criteriosa da história clínica e psicopatológica é essencial. Essa exigência está clara também na CID-11.

Por exemplo, uma criança que passou por um divórcio recente dos pais pode estar ansiosa e, por isso, parecer desatenta. Um adulto com insônia crônica pode estar exausto e sem foco.

Diagnosticar TDAH sem investigar essas possibilidades é irresponsável e perigoso, pois leva a tratamentos errados e pode até mascarar um sofrimento maior.

Transtorno/condiçãoComo se parece com o TDAH
AnsiedadeDificuldade de foco por preocupação excessiva
DepressãoLentidão mental e esquecimento
Problemas de sonoCansaço e distração
Dislexia ou transtornos de aprendizagemBaixo desempenho escolar

Agora que a gente entendeu que o diagnóstico precisa ser cuidadoso, que tal descobrir quem toma essa decisão e como ela é feita com seriedade, ética e ciência?


5. A decisão diagnóstica deve integrar evidências científicas, expertise clínica e características do paciente

O modelo tripartite da Terapia com prática baseada em evidências, defendido por organismos como a American Psychological Association (APA) e a Associação Canadense de Psicologia (CPA), sustenta que decisões clínicas devem unir:

  1. Melhor evidência científica disponível (pesquisas, protocolos, guias clínicos)
  2. Experiência do profissional (vivência, sensibilidade clínica, julgamento ético)
  3. Características e valores do paciente (história de vida, cultura, preferências)

Em outras palavras: é preciso juntar cabeça (ciência), coração (empatia) e mãos (prática clínica). Um bom diagnóstico leva tudo isso em conta, e leva tempo, escuta, responsabilidade.

E aí, percebeu como o diagnóstico de TDAH vai muito além de um rótulo? Ele exige critério, respeito e ciência.


Perguntas frequentes

  1. O que é TDAH, afinal?
    TDAH é o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a atenção, o controle de impulsos e a regulação da atividade motora.
  2. Qualquer pessoa distraída tem TDAH?
    Não. Distração isolada não é suficiente. É preciso haver prejuízo funcional significativo e sintomas persistentes em mais de um contexto.
  3. Por que o diagnóstico não pode se basear só na opinião do profissional?
    Porque o TDAH compartilha sintomas com outros transtornos. Sem evidência científica e avaliação cuidadosa, há risco de erro.
  4. Quais critérios são usados para diagnosticar TDAH?
    Os principais são os definidos pelo DSM-5 e pela CID-11, incluindo início precoce, persistência dos sintomas, prejuízo funcional e manifestação em diferentes ambientes.
  5. É possível diagnosticar TDAH só com uma conversa?
    Não. A avaliação precisa ser multimodal, com entrevistas, questionários, relatos de terceiros e histórico clínico completo.
  6. O TDAH pode ser confundido com o quê?
    Ansiedade, depressão, insônia, dislexia, estresse, problemas familiares e até falta de rotina. Tudo isso pode imitar o TDAH.
  7. Quem pode diagnosticar TDAH corretamente?
    Psiquiatras, neurologistas, psicólogos e pediatras com experiência em saúde mental infantil ou adulta.
  8. Testes psicológicos são obrigatórios?
    Não obrigatórios, mas fortemente recomendados, pois ajudam a obter dados objetivos.
  9. O ambiente influencia nos sintomas do TDAH?
    Sim. Por isso os sintomas devem estar presentes em dois ou mais contextos, como casa e escola.
  10. O que é prejuízo funcional no TDAH?
    É quando os sintomas atrapalham de verdade o rendimento escolar, o trabalho, os relacionamentos ou a autoestima.
  11. O diagnóstico pode mudar com o tempo?
    Sim. Sintomas podem se transformar, desaparecer ou ser melhor explicados por outra condição.
  12. Crianças e adultos têm sintomas diferentes?
    Alguns sintomas mudam com a idade. Adultos tendem a apresentar mais desatenção do que hiperatividade.
  13. Existe um exame de sangue ou de imagem para detectar TDAH?
    Não. O diagnóstico é clínico, feito com base em comportamento e história de vida.
  14. Como saber se o diagnóstico foi feito com responsabilidade?
    Verifique se o profissional usou critérios científicos, escutou diferentes fontes e explorou outras causas possíveis.
  15. Diagnóstico de TDAH feito “por achismo” pode fazer mal?
    Sim. Pode levar a tratamentos desnecessários, uso indevido de medicação e rotulagem injusta.

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