Como é o tratamento para Transtorno de Personalidade Borderline?

Como é o tratamento para Transtorno de Personalidade Borderline?

A busca por tratamento para borderline alivia os sintomas debilitantes e auxilia no desenvolvimento de habilidades de enfrentamento.


É difícil compreender, para quem está de fora, o turbilhão de emoções vivenciado por pessoas com Transtorno de Personalidade Borderline (TPB). Oscilações súbitas de humor, impulsividade intensa, medo profundo de abandono e relacionamentos marcados por instabilidade são apenas algumas das características mais marcantes dessa condição.

Para os familiares e amigos, lidar com essas manifestações é tão desafiador quanto para o próprio paciente. É comum sentirem-se perdidos, impotentes e emocionalmente exauridos diante de situações repetitivas e intensas.

Nesse contexto, conhecer o que a ciência psicológica já descobriu sobre o tratamento para borderline torna-se uma ferramenta poderosa. A boa notícia é que existem intervenções eficazes, baseadas em evidências, que têm promovido mudanças significativas na vida de quem convive com esse transtorno.

Essas intervenções não apenas reduzem os sintomas, mas também contribuem para a construção de uma vida mais estável, com vínculos mais seguros e maior regulação emocional.

Este artigo tem como objetivo apresentar, de forma acessível e fundamentada, os principais princípios, diretrizes e recursos disponíveis dentro da intervenção psicoterapêutica para o Transtorno de Personalidade Borderline.

Serão exploradas as abordagens mais eficazes segundo a literatura científica, com destaque para a Terapia Comportamental Dialética (DBT), reconhecida mundialmente como o padrão ouro nesse contexto.


A importância da psicoterapia baseada em evidências

Diante de um transtorno tão desafiador, surgem muitas perguntas: existe cura? Há esperança? Como lidar com uma pessoa borderline? O primeiro passo é compreender que a abordagem psicoterapêutica adequada transforma significativamente a vida do paciente e daqueles que convivem com ele.

A psicoterapia baseada em evidências (PBE) orienta-se por três pilares:

  1. Melhores evidências científicas disponíveis;
  2. Experiência clínica do profissional;
  3. Características, valores e contexto do paciente (APA, 2006).

É dentro desse tripé que se constrói um suporte psicoterápico eficaz. No caso do TPB, a Terapia Comportamental Dialética (DBT), criada por Marsha Linehan, apresenta os resultados mais sólidos em termos de redução de comportamentos suicidas, automutilações e hospitalizações (Linehan et al., 1991).

Sua proposta integra técnicas da Terapia Cognitivo-Comportamental com elementos da filosofia oriental, especialmente o mindfulness, promovendo um equilíbrio entre aceitação e mudança. A estrutura básica da DBT inclui:

Leia também:

  • Psicoterapia individual semanal;
  • Treinamento de habilidades em grupo;
  • Acompanhamento telefônico em crises;
  • Equipe de supervisão para os terapeutas.

As habilidades desenvolvidas estão organizadas em quatro módulos:

  1. Mindfulness: estar presente e consciente no aqui e agora;
  2. Tolerância ao mal-estar: lidar com emoções difíceis sem agir impulsivamente;
  3. Regulação emocional: compreender e gerenciar os sentimentos;
  4. Eficácia interpessoal: construir e manter relações saudáveis.

Esse processo psicoterapêutico é estruturado em fases, começando com o controle dos comportamentos mais graves, como suicídio e automutilações, e avançando para temas como autoestima, identidade e objetivos de vida.


Outras abordagens eficazes no tratamento do TPB

Embora a Terapia Comportamental Dialética (DBT) seja o modelo mais estudado, outras abordagens têm demonstrado bons resultados no tratamento psicoterapêutico do transtorno de personalidade borderline.

Cada uma delas pode ser adaptada às necessidades específicas do paciente, levando em consideração sua história de vida, estilo de enfrentamento e contexto social.

Entre as abordagens com eficácia comprovada, destaca-se a Terapia focada no esquema (TFE), desenvolvida por Jeffrey Young. Essa psicoterapia combina elementos da terapia cognitiva, psicodinâmica e teoria do apego, visando identificar e modificar padrões disfuncionais profundos, chamados de “esquemas”.

A TFE se mostra especialmente útil para pacientes que apresentam traços de personalidade rígidos e dificuldades recorrentes em relacionamentos, o que é comum no TPB.

Outra alternativa é a psicoterapia baseada na mentalização (MBT), que foca na capacidade do indivíduo de compreender os próprios estados mentais e os dos outros. Muitos pacientes borderline apresentam déficits nessa habilidade, o que compromete a empatia e a regulação emocional. A MBT ajuda a restaurar essa função por meio de um plano de cuidados emocionais focado em experiências de apego e interação social.

Além disso, temos a psicoterapia focada na transferência (TFP), baseada na psicoterapia psicanalítica. Essa abordagem centra-se na relação entre psicoterapeuta e paciente como um espelho das relações externas. Por meio da interpretação das emoções vividas na sessão, é possível reestruturar padrões emocionais disfuncionais, fortalecendo a identidade e os vínculos afetivos.

Todas essas psicoterapias fazem parte de uma estratégia de manejo clínico abrangente. Elas podem ser utilizadas de forma isolada ou combinadas, desde que o profissional possua formação adequada e o paciente seja avaliado quanto à indicação clínica.

Mais importante do que o nome é o vínculo estabelecido, o compromisso mútuo com o processo e a flexibilidade para adaptar as intervenções à singularidade de cada caso.

Está gostando do conteúdo? Dê o primeiro passo em direção ao seu bem-estar emocional


Abordagens menos eficazes no tratamento do TPB

Embora existam diversos modelos de psicoterapia disponíveis, nem todos apresentam bons resultados. Saber quais abordagens são menos indicadas é tão importante quanto conhecer as mais eficazes. Isso evita frustrações, perdas de tempo e, principalmente, riscos à saúde emocional do paciente.

A primeira consideração é que intervenções genéricas e não estruturadas tendem a ser pouco efetivas. Psicoterapias que carecem de objetivos claros, planejamento progressivo e acompanhamento sistemático frequentemente não oferecem o suporte necessário para lidar com as intensas oscilações emocionais e os padrões relacionais disfuncionais típicos do TPB.

Nesse sentido, abordagens apenas centradas na escuta passiva, sem diretividade ou técnica, geralmente falham em promover mudanças significativas.

Outro ponto crítico recai sobre psicoterapias de curta duração e foco exclusivo no aqui e agora, como algumas variantes da terapia humanista ou da terapia centrada na pessoa.

Embora essas abordagens sejam valiosas em muitos contextos, sua ênfase em validação e aceitação, sem estratégias específicas de regulação emocional ou reestruturação cognitiva, é insuficiente para os desafios mais graves que o TPB impõe.

Além disso, modelos exclusivamente farmacológicos, utilizados sem a combinação com uma intervenção psicoterapêutica, também são limitados. Os medicamentos ajudam a aliviar sintomas como impulsividade, ansiedade ou depressão, mas não tratam os padrões de funcionamento emocional e interpessoal que constituem o núcleo do transtorno.

Por isso, os fármacos devem ser apenas um recurso complementar dentro de um acompanhamento psicoterapêutico mais amplo e bem delineado.

Por fim, terapias de orientação analítica tradicional, quando excessivamente longas, abstratas e centradas na interpretação de conteúdos inconscientes, podem gerar insegurança e abandono precoce da parte do paciente borderline.

Isso ocorre porque a ausência de estrutura clara e o risco de interpretações mal compreendidas podem intensificar sentimentos de invalidação e abandono, agravando sintomas.

Em resumo, o tratamento psicoterapêutico do TPB deve ser ativo, estruturado, com objetivos definidos e técnicas baseadas em evidências. Conhecer as limitações de determinadas abordagens é um passo essencial para fazer escolhas conscientes, evitar frustrações e garantir que o paciente receba um suporte psicoterápico seguro, validante e transformador.


Quadro comparativo da efetividade entre psicoterapias

Esse quadro serve como referência para orientar decisões psicoterapêuticas, tanto por profissionais quanto por familiares e pacientes em busca de um recurso adequado:

Tipo de abordagemEfetividadeCaracterísticas principais
Terapia comportamental dialética (DBT)AltaEstruturada, foco em regulação emocional, habilidades sociais, mindfulness e prevenção de suicídio.
Terapia focada no esquema (TFE)AltaIntegra TCC, psicodinâmica e apego; trabalha esquemas centrais e padrões relacionais mal adaptativos.
Terapia baseada na mentalização (MBT)Moderada a altaFoco na reconstrução da capacidade de interpretar os próprios estados mentais e os dos outros.
Terapia focada na transferência (TFP)ModeradaPsicodinâmica estruturada; usa a relação terapêutica para reestruturar padrões relacionais disfuncionais.
Terapias humanistas não estruturadasBaixaÊnfase exclusiva na escuta empática e aceitação, sem técnicas específicas de regulação ou mudança.
Psicoterapia Analítica Clássica (sem estrutura)BaixaLonga, interpretativa, abstrata; pode aumentar sentimentos de abandono se não for adaptada ao TPB.
Apenas tratamento farmacológicoBaixa (quando isolado)Reduz sintomas, mas não modifica padrões de personalidade; não substitui o processo psicoterapêutico.
Terapias breves não direcionadasMuito baixaIntervenções superficiais, sem tempo para mudanças profundas nos esquemas e nos vínculos afetivos.

Observações:

  • As abordagens eficazes se caracterizam por terem estrutura clara, validação empática e estratégias de mudança comportamental e emocional.
  • Abordagens menos eficazes não são “erradas”, mas devem ser evitadas como única forma de intervenção em casos de TPB moderado ou grave.

Palavras finais

Ao longo deste artigo, buscamos lançar luz sobre os caminhos possíveis e eficazes do tratamento para borderline, com base nas práticas reconhecidas pela psicoterapia baseada em evidências.

Discutimos como a compreensão profunda do transtorno, aliada ao uso de métodos estruturados e validados cientificamente, transforma a trajetória de pessoas que convivem com o transtorno de personalidade borderline — seja como pacientes, familiares ou amigos.

Ficou evidente que o sucesso do processo psicoterapêutico depende da combinação entre técnica, vínculo terapêutico e adaptação às necessidades individuais.

Abordagens como a terapia comportamental dialética (DBT), a terapia focada no esquema e a mentalização têm se mostrado especialmente eficazes quando aplicadas dentro de um plano de cuidados emocionais que envolva também suporte familiar, psicoeducação e estratégias contínuas de prevenção de recaídas.

Por fim, esperamos que este material possa servir como um guia acessível e esclarecedor para aqueles que desejam investir em saúde mental, promover maior empatia nas relações e oferecer apoio efetivo a quem enfrenta os desafios do TPB.

O cuidado clínico não é apenas um protocolo técnico, mas um compromisso com a transformação humana. Com apoio profissional, rede de suporte e persistência, é possível construir uma vida com mais equilíbrio, sentido e conexão.


Referências

  • AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
  • AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION. Evidence-Based Practice in Psychology: APA Presidential Task Force on Evidence-Based Practice. Washington, DC: APA, 2006.
  • LINEHAN, M. M. Cognitive-behavioral treatment of borderline personality disorder. New York: Guilford Press, 1993.
  • LINEHAN, M. M. et al. Dialectical behavior therapy for patients with borderline personality disorder and drug-dependence. The American Journal on Addictions, v. 8, n. 4, p. 279–292, 1999.
  • MOREIRA, M. B.; ARAÚJO, T. S. (org.). Prática psicológica baseada em evidências: definição e exemplos. Brasília: Instituto Walden4, 2021.
  • SILBERSWEIG, D. A. et al. Frontolimbic inhibitory function is selectively impaired in borderline personality disorder. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 104, n. 12, p. 8061–8066, 2007.
  • SWENSON, C. R. Dialectical Behavior Therapy: A Practitioner’s Guide. New York: Oxford University Press, 2016.

Gostou do conteúdo? Compartilhe com seus amigos e ajude mais pessoas a entenderem a saúde emocional!

Borderline (44) Depoimentos (7) Narcisismo (298) Outros (245) TDAH (8)


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *